Um texto no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra

 

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.

 

Todos nós guardamos algum objeto de recordação, que aos olhos dos outros pode parecer estranho. Eu guardo pedras, Carlos Drummond de Andrade. Uma pedra é só uma pedra se não dermos significado para ela. O poeta fez versos. Eu fiz delas memórias. E você?

Tenho algumas, poucas e pequenas é bem verdade. Guardo-as porque estão cheias de simbolismo para mim. Cada uma convoca uma boa lembrança de algum lugar em que estive.

Gosto de admirar grandes pedras. Jamais escalei uma. Nem o Itacolomi, em Gravataí.  Fui até lá, mas fiquei apenas observando. A única vez que cheguei mais próxima de uma montanha  foi por pura ingenuidade.

Visitei Machu Pichu. Me disseram que a van levava até a entrada do pórtico da cidade. Tinha que subir mais um pouco. Uma amiga, sentada à beira do penhasco, que eles chamam de belvedere, me pergunta, emocionada com o espetáculo da natureza, o que eu estava sentido. Esperava que lhe confirmasse algo transcendental. Só pude informar que estava sentido taquicardia, tamanho meu pavor de altura. O lugar é incrível. De lá não trouxe outra memória física para minha coleção.

E as pedras no sapato? As de sentido figurado? Todos nós já tivemos que remover alguma do caminho. Por vezes ficamos com a impressão que é uma pedreira e temos que decidir se escalamos, contornamos ou pegamos uma picareta. Buscamos forças do sobrenatural para dar conta do esforço e descobrimos que é possível, que conseguimos. Superado o obstáculo, seguimos em frente.

Este texto não é uma pedra no meio do caminho. Não é um obstáculo a contornar.  Me faz continuar. Não sei se você me entende. Não sei se eu me entendo… 

 

 

 

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