Você já ouviu o silêncio?

Quem acompanhou o texto da semana passada percebeu que terminava o texto reclamando de uma dor na garganta. Lembram disso? Pois bem, fui diagnosticada com placas na garganta. Passei três dias com febre alta e em silêncio. Esse tipo de infecção pode ser tratado com uma injeção e as dores passam em alguns minutos, mas eu sou alérgica a esse tipo de medicamento. O que me restou a fazer? Esperar a dor passar em silêncio.

É muito desafiador não pronunciar algumas palavras durante o dia, principalmente quando necessitamos nos comunicar. Nesses três dias, eu entendi porque nunca fui bem nos jogos de Imagem&Ação, eu sou péssima de mimica! As mãos ganham um novo sentido: é mais fácil fazer um sinal, apontar para algum objeto ou tentar soletrar alguma palavra com os gestos. É super útil e recomendado ter um bloco de papel e canetas por perto. Caso ninguém entendesse os meus gestos, eu apenas escrevia no papel.

Essa não foi a minha primeira experiência com as dores de garganta, elas me acompanham desde a infância. Mas dessa vez, eu tive que passar por elas sozinha. Alguns especialistas afirmam que a nossa audição fica mais sensível quando alguns dos outros sentidos ficam enfraquecidos e eu fiquei sem voz por alguns dias. Talvez a febre tenha ajudado a prestar menos atenção na correria do dia a dia e mais nos detalhes.

O ponteiro do relógio estava mais cansado porque as horas passavam mais lentas. Era possível contar o número de carros que passavam na avenida, observar o vai-e-vem das nuvens, cantar mentalmente cinco vezes a mesma música e nada do relógio mudar. Foi quando eu percebi que necessitava apreciar aquele momento. Quando que eu teria a oportunidade de ouvir o silêncio outra vez? Nesses três dias, o canto dos pássaros ficaram mais fortes, a espuma do leite tinha um som diferente, as gotas da chuva pareciam mais agressivas e o vento gritava com muita fúria. Senti que cada coisa tinha um recado, uma mensagem a ser passada.

Eu fiquei ali, sentada perto da janela aguardando a minha dor passar. O silêncio falou tanto que o ponteiro do relógio ficou mais rápido, as dores no corpo não faziam mais sentido e a minha voz voltou para rir das suas brincadeiras.

E você já ouviu o seu silêncio hoje? Ele tem som de quê?

 

 

 

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