O ano começou. Ou pelo menos a data criada por nós para seu inicio passou. Os anos são contados pela órbita completa da Terra ao redor do sol, mas considerarmos que o movimento de translação começa em primeiro de janeiro é pura convenção. Ao contrário dos dias, os quais sabemos com exatidão quando começam e terminam, ou das próprias estações, regradas pela posição da Terra em relação à nossa estrela, o começo do ano não passa de mera decisão humana, sem acompanhar nenhuma lógica sobre o posicionamento do planeta no sistema solar.
Aliás, diante de constantes trocas na adoção de calendários pelas civilizações, muitas datas já foram utilizadas para marcar a virada. O interessante nisso é que nada disso interessa. Segundo os cientistas, nosso lar cósmico tem mais de quatro bilhões de anos, portanto eventuais alterações sobre o dia em que começou a orbitar o sol não importam tanto. Ou será que importa? Por analogia, saber o dia do início do ano seria o mesmo que saber o dia do nascimento da Terra? Com bilhões de anos, alguém ainda se importaria com seu aniversário?
Nunca saberemos.
Sabemos é que damos importância para os nossos aniversários. À cada ciclo que completamos, celebramos com amigos e parentes, mas à medida que os números aumentam, mesmo permanecendo insignificantes perto dos bilhões, como por exemplo míseros trinta, as comemorações ganham um ar diferente. Supostamente, nesse período começam as crises de meia idade, quando analisamos com mais rigor nosso passado e planejamos com maior preocupação o futuro. A situação pode piorar muito se a idade avançar para os quarenta e cinquenta anos e a análise das nossas atitudes passadas apresentar um resultado negativo, carregando os planos com uma dose extra de ansiedade.
Mas isso não acontece com todos. Para alguns, completar trinta, quarenta ou setenta anos não é sinônimo de assinar um atestado de velhice, mas apenas uma data sem grande significado em sua consciência. Isso acontece quando a pessoa não liga para quantos anos tem e sim para o que fez durante esse tempo. Um sexagenário que viajou e voltou para casa, partiu corações e teve o seu partido também, trabalhou e foi despedido, trabalhou em outro lugar e pediu demissão, desenvolveu sua carreira, sorriu em nascimentos e chorou em funerais, criou os filhos e agora brinca com os netos, sabe que mais importante do que a idade é a relação de experiências vividas com o passar do tempo.
Não faz diferença o ano estar começando ou terminando para quem aproveita os dias, porque não passa de um movimento repetido bilhões de vezes, da mesma forma que não interessa quantos anos temos, porque o importante é tomar decisões, se arrepender e aprender, ou seja: viver.