ANA D’AVILA | A maga do pampa

A imensidão da fazenda lhe causava sensação de poder. Mas ela estava longe de ser completamente poderosa. E muito menos, feliz. A infância rural deu a ela, alegrias, certezas e tristezas. A morte do pai foi a mais marcante. Depois, herdou a fazenda. E o local, no sul do pampa gaúcho, passou a ser somente um agradável local para viver. Não tinha mais, alta produção agrícola.

Sua avó materna era bruxa. No sentido espiritual da palavra. Gostava de sua pequena horta. Tinha tomates e salsinha. Mas a tônica eram as ervas aromáticas. Alecrim, manjericão,erva doce, arruda, sálvia e camomila. Para as amigas e, em dias especiais jogava tarô. Cartas estas, com lâminas espanholas. Muito coloridas. No jogo ela desvendava segredos e transpunha inquietações. Nos dias de lua cheia, sua casa na fazenda, ficava apinhada de amigas em busca deste momento. O momento em que “Perla”jogava as cartas.

Suas previsões eram certeiras. Visionária e mística, fumava uma espécie de palheiro gaúcho. Que deixava a sala com odor característico. Cheiro este, que impregnava e enfumaçava toda a casa. Na sala, amigas e conhecidas, aguardavam o atendimento. Nas perguntas muita curiosidade sobre amores e traições. Enfim, presente, passado e futuro. As solteiras indagavam sobre questões amorosas. Com quem casariam? Seriam felizes no casamento? Quantos filhos teriam? As mais velhas, queriam saber se os maridos as traíam. Se haveria saúde na velhice e netos sadios?

“Perla” era plena. Exata. Tinha aura de bruxa. Trazia magia em sua genealogia. Benzedeira do pampa gaúcho acordava muito cedo e respeitava os ciclos lunares. Vivia no campo e tinha certeza que a vida só é completa, se tivermos amigos fiéis, um cãozinho ou  gato para companhia e muita fé em Deus. Sua fama de taróloga atravessou todo o Rio Grande do Sul. Já com quase 70 anos, atendia consulentes até dos países irmãos. Como Uruguai e Argentina. Praticava cromoterapia e estudava a medicina alternativa, encontrada em plantas, ervas e árvores. “Juá” era sua árvore preferida.

Possuía uma biblioteca esotérica considerável. E também um enorme, caldeirão de ferro. Nele, eram queimadas ervas e especiarias. Sempre no período da lua cheia. Ou quando o Minuano soprava. Assoviando na porta principal da fazenda. O vento, dizia ela, é um grande removedor de obstáculos. E condensador de energias. Capaz de transmutar. Levar para bem longe, todas as nossas aflições.

Atrás da casa, na porta dos fundos, ela mantinha pendurada uma réstia de alho. Outro item do seu acervo, era uma pequena vassoura com cerdas especiais. Mágica, como ela. A fama de que voava na lua cheia se espalhou pelas redondezas. Muitos afirmavam, que a viram voando nesta pequena vassoura de curvatura saliente.

“Perla” provou com sua existência, o sabor da magia. Comprovando que tudo nesta vida, só se resolve com fé em Deus e pensamentos positivos. Às vezes, com o sol do verão se afastando na magnitude do verde daquela planície, ela recitava preces e esconjuros. Sempre agradecendo ao Cosmos tudo que conquistará. (Ana D´Avila)

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