A portaria

Tempos violentos exige muita segurança. E, segurança é o que não faltava na portaria daquele prédio. Através de Assembléia, os moradores decidiram contratar uma empresa especializada para cuidar do condomínio. Pois ao lado, já estabelecidos, moravam pessoas bem estranhas. O tal gueto paralelo, metia medo nos moradores do Condomínio. Pois seguidamente por ali, perambulavam tipos bem sinistros. E  carros da polícia, volta e meia, eram vistos nas imediações.

Com a empresa de segurança contratada começaram a chegar ao prédio porteiros bem instigantes. A empresa fazia um rodízio de empregados e os porteiros se alternavam de mês em mês. A função deles era zelar pela segurança dos moradores e, abrir o portão na entrada, com um controle remoto, para a frota de carros do edifício circular. Ao redor do condomínio existia ainda uma cerca elétrica bem assustadora. Se  funcionava, não se sabia. Mas intimidava. Os porteiros permaneciam numa minúscula casinha com um monitor ligado à várias câmeras, num período de 24 horas de vigilância.

Começava o desfile dos porteiros. Seu João, outrora empresário de médio porte, transformara-se agora, em Porteiro do Condomínio. Sua empresa, com estes tempos de economia difícil, havia  entrado em falência. Munido de seu velho poder e arrogância, inquiria os moradores. E para abrir o tal portão de entrada, pessoas suspeitas e até os moradores, eram alvo de um verdadeiro interrogatório. Seu João fulminava: a quanto tempo tu moras aí? Qual o número do teu apartamento? Tu chegou hoje de táxi, podes me fornecer o prefixo do táxi e de qual praça ele provém? Seu João torrava a paciência de todo mundo. Mas se era para ter cuidado com quem queria entrar no prédio, ele ia às últimas consequências. Não sei por que, não durou muito na Portaria.

No outro mês, seu José, o novo porteiro substituiu o João. Mas ele abusava do álcool em pleno horário de trabalho. Até que seu estranho comportamento foi notado pelos moradores. Ria muito quando as pessoas eram vistas por ele, na câmera de segurança instalada no elevador. No monitor da portaria ele se divertia com as imagens. Sabe Dona Rosa, disse para a moradora da cobertura: “quando a senhora vem descendo eu já lhe vejo”. Ele via o óbvio. Não era lá tão eficiente por conta dos “etílicos”. Um dia, pleno de inverno,temperatura beirando os dois graus, seu José fez um “striptease” na portaria e saiu nú pelo condomínio. Acabou tendo um chilique e permaneceu deitado no chão até a zeladora chamar o Samu e levar seu José. A ambulância não tardou e ele foi levado direto ao hospital, quase em coma alcoólico. Seu José acabou demitido. Depois, sumiu do serviço.

Na sequência dos Porteiros surreais, chegou para trabalhar no prédio um rapaz estilo “ator de Hollywood”. Bonitinho, mas meio surdo. Quando os moradores entravam com seu carros, ele não entendia o número do apartamento. "O que, 704? Não escuto, é 704?” dizia ele. Dona Florinda, moradora do 803, a seu respeito exclamou: “Neste mundo nada é perfeito. É bonitinho, mas é surdo”! E, assim vivendo no Brasil onde segurança é artigo necessário, os moradores do edifício vão vivendo. O troca-troca na portaria já é visto como normal. Apenas os porteiros é que destoam um pouquinho, com seus tipos nada convencionais.

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