A quarentena dos bares que afeta Viamão e o silêncio no bairro mais boêmio da Capital

Tomaz Silva | Agência Brasil

Quem não tem seu bar preferido? Quem não conheceu viveu um romance dentro de um bar? Quem não dividiu ali sua felicidade, gargalhadas com amigos? Infelizmente a pandemia da covid-19 tornou essas sensações como parte do passado, principalmente em tempos de quarentena, quando, isolados em nossos lares, vemos os segundos virarem minutos, os minutos virarem horas, até os dias parecerem séculos.

Na Cidade Baixa, o mais tradicional bairro boêmio de Porto Alegre, os momentos lúdicos divididos por milhares de pessoas dentro de seus "botecos"  preferidos transformou-se, rapidamente, em dura realidade para os empresários do setor que, há cerca de um mês sem abrir as portas, precisam encarar as contas que não cessam de chegar. É água, luz, aluguel.

A diretoria da Associação dos Comerciantes da Cidade Baixa (ACCB), por meio do presidente Joaquim Ulisses Araújo e Silva, estima que apenas 20% dos estabelecimentos da região estejam abertos. A queda do faturamento chega a quase 100% já que o bairro é considerado como ponto de "convivência e participação pessoal". 

A ACCB, com mais de 100 estabelecimentos registrados, enfatiza também que todas as medidas tomadas no sentido da flexibilização do comércio local seguem as diretrizes do governo estadual e que a luta da instituição se dá a partir do surgimento de "pequenas brechas" que permitam solicitações à prefeitura municipal. "Trabalhamos junto com a ciência", explica.

 Apesar do momento crítico, a ideia é de não passar para os funcionários o temor de demissões em massa. "Temos trabalhado muito nesse sentido. Os funcionários são nossos parceiros", destaca. Para manter a situação em nível estável são utilizadas alternativas como banco de horas e férias.

Mas há sim luz no fim do túnel. Ainda segundo a instituição, é aguardado um decreto do prefeito Marchezan que tem como objetivo reabrir lojas e comércio de serviços. Alguns setores como o de restaurantes sushis mostraram alguma recuperação de suas economias por meio do serviço de delivery e o número de solicitações parece crescer. "A situação é difícil, mas esse não é o momento de negativismo", declara Ulisses.

 

Criatividade em busca de produtividade

 

Na tentativa de permanecerem como opções culturais e de entretenimento durante o período de confinamento, os estabelecimentos estão recorrendo a opções criativas para superar o momento de crise. O suplício parece não ter fim para quem já está há 30 anos entre os bares referência da Capital. O Bar do Marinho, com sua clientela fiel e sua confraria, não é exceção, como explica a proprietária Kelly Nothen. "Assim que recebemos a noticia do fechamento dos bares, ficamos apreensivos, afinal, somos uma família que vive do bar".

E diante do amargo limão, fazer o quê… uma doce limonada. Mesmo diante das dificuldades, a  jovem empresária acredita que os serviços de excelência prestados pelo bar ao longo do tempo possam agora fazer a diferença e cria novas alternativas para encarar as dificuldades do presente e projetar o futuro incerto.

"Criamos uma 'vakinha' virtual, onde s pessoas podem contribuir com qualquer valor. São vendas de vouchers que poderão ser usados assim que o bar reabrir, cada cliente que contribuir ainda ganhará um brinde surpresa ", destaca. "Todos os dias temos uma nova contribuição, até de fora do país. Temos um cliente e amigo, que hoje mora em Londres, que ao saber da ideia prontamente contribuiu e ainda compartilhou o link  #Apoieobardomarinho.", afirma.

O Bar do Marinho também mantém sua programação cultural durante a quarentena. Sem a possibilidade de aglomeração de pessoas, os shows estão sendo transmitidos pelo Facebook. Artistas de renome e uma sequência que promete ser de grandes surpresas. "A ideia surgiu quando estávamos assistindo a live do nosso amigo e parceiro Sérgio Rojas, e resolvemos compartilhar na página do Bar. Quando vimos que o guitarrista Paulinho Barcellos, que também é nosso amigo e parceiro de show no bar, iria realizar uma apresentação virtual, entramos em contato. Muitos parceiros e clientes participando, comentando e curtindo".

A aflição ressurge no horizonte quando o tema passa a ser a perspectiva de reabertura dos bares e a retomada plena das atividades . "Estamos ansiosos por voltar a trabalhar, porém sabemos que neste momento é importante todos ficarem em casa. Enquanto isso, estamos planejando novos atrativos para os nossos clientes. Acreditamos que será um ano muito difícil, mas nunca perdemos a esperança de dias melhores, precisamos ter fé", conclui.

 

Prevenção

Há cerca de um mês o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, estabeleceu algumas medidas de prevenção para os estabelecimentos que permanecem abertos como higienizar o local a cada a cada três horas durante o funcionamento e no início das atividades. A higienização inclui : os pisos, as paredes e o forro. Outra medida diz respeito aos talheres que precisam de individualização, diminuindo assim o risco de contaminação. Os estabelecimentos precisam  apresentar métodos eficazes afim de coibir a aglomeração dentro e fora do local, como distribuição de senha para evitar filas. 

 

Novas estratégias em Viamão

Desde o começo da quarentena, o empresário Antônio Carlos Lysiak, proprietário do pub especializado em cerveja artesanal Beerbox, reforçou a divulgação da empresa em redes sociais e passou a investir na entrega de seus produtos direto na casa dos consumidores. E o que era uma saída momentânea para reverter a queda no faturamento será mantida a longo prazo.

– Temos seis torneiras de cerveja artartesanal funcionado na teleentrega. O retorno está sendo interessante, vamos manter sim após esta crise – afirma Lysiak.

A responsabilidade social também está presente. A empresa promove uma campanha de arrecadação de donativos, que são distribuídos para moradores de Viamão com dificuldades financeiras por conta da covid-19. Quem doa cinco quilos de alimentos não perecíveis (exceto sal e açúcar) ganha a cerveja artesanal da casa. 

O espaço de shows musicais, que fica no Cantegril, foi transformado em ponto de coleta de donativos há duas semanas e recebe também produtos e limpeza e higiene pessoal. De terça a sábado, quem doar dois quilos de alimentos levar para a casa um livro, cortesia do sebo literário mantido pelo pub.

– Já distribuímos 400 quilos de donativos, mas estamos esperando mais doações, sempre das 18 às 22 horas. Se cada um der um pouco, conseguimos ajudar mais famílias necessitadas – convida Lysiak.

Doações arrecadadas pelo Beerbox

 

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