Depois, o tempo ficou nublado e quando eu estava no ônibus, começou a abrir-se. Enquanto eu esperava o ônibus, chorei. Pensei nas dificuldades dessa minha nova vida, e pensei em tempos de infância. Pensei na falta de responsabilidades, e em todas as que eu possuo hoje. Mas me orgulho disso, embora não seja nada fácil. Tenho a impressão de que nada é fácil nessa vida, mas tudo é lindo. Tudo é lindo.
Me acolhi, me permiti sentir esse cansaço, essa tristeza, essa solidão. Todas as sensações que me atravessaram, senti com muita verdade e depois passou. Porque sempre passa, o desespero e a dor, tudo isso passa. E depois volta, ora ou outra.
Ontem pintei a unha de vermelho e gostei disso. Foi bom chorar, respirei fundo várias vezes. Precisava disso. Precisava pegar um ar para poder seguir, meu ônibus se atrasou, deve ter atrasado para que eu pudesse chorar mais um pouco em paz.
No ônibus, comecei a ler um livro que pedi emprestado, do Camus. Me entreti muito, nem esperava que ia gostar tanto. Até dei umas risadas, como a vida é volátil, tudo é muito doido. Uma hora estamos chorando de desespero, e outra, rindo sozinhos. Que vida!
Pensei em coragem, tenho usado muito essa palavra ultimamente. Porque tenho me agarrado a ela, ou talvez ela esteja agarrada em mim. Somos uma coisa só, estamos acompanhando uma à outra.
Hoje mais cedo, senti de novo aquela sensação que tenho sentido nos últimos dias, uma sensação de amor à vida. É engraçado, às vezes me pergunto se não estou equivocada, ou mentindo para mim mesma. Como pode alguém ter tanta dúvida da felicidade? Eu quero isso, e vou atrás. Mas não preciso, pois tudo já me é e tudo já está