Hoje é segunda-feira e tudo irá bem, exceto pela dúvida. Hoje o céu está nublado, a luz está opaca, mas as coisas continuarão e tudo irá bem. Exceto pelo medo.
Hoje as lojas abrirão, as pessoas sairão para trabalhar e estudar, e os transeuntes seguirão suas rotas de olhos fechados. Hoje os restaurantes receberão os clientes fiéis que sempre fazem os mesmos pedidos, e as papelarias farão a reposição de estoque das tintas, das canetas, dos tecidos. O fornecedor atenderá e dirá: “Bom dia, seu Carlos! É aquela leva de segunda-feira?. Pode deixar comigo!”.
Hoje é segunda-feira, e tudo correrá bem, exceto pelo marasmo.
Hoje é segunda-feira e as coisas estarão no seu devido lugar, aquele lugar em que se encontravam na segunda-feira passada, e que tentamos mudar, pensamos em mudar, mas não mudou.
Hoje é segunda-feira e a esperança levantará radiante, pois ontem ela estava adormecida em nossos corações anestesiados pelo domingo. Hoje tudo irá bem, exceto pelo caos instalado, um pouco disfarçado, nesse texto organizado, em que quase ninguém pode imaginar tudo o que se esconde nas entrelinhas.
Hoje é segunda-feira, e há bilhões de pessoas no mundo, esperando algo, desejando algo ou alguém. Hoje a Terra fará sua rotação, e a tarde logo virá bem mansa, para compensar a noite que chegará sem pedir licença.
Hoje é segunda-feira e tudo correrá bem, exceto pela vírgula depois dessa primeira oração, exceto pela vida e toda essa oscilação, exceto pelas palavras que entregam essa situação.