Permaneci olhando para o nada, meditando sobre as palavras, as palavras que nunca morrem. O abraço que deixa de ser quente, para tornar-se frio e cortante, desconfortável. As palavras não, permanecem sempre aqui, absolutamente calorosas.Naquele curto espaço de tempo, questionei os céus: por quê? E nada me foi respondido, apenas o silêncio e esse silêncio consumia meus dias.
Todos os anos busquei entender aquilo que de fato era incompreensível. Era difícil encarar a realidade: nem tudo é como a gente quer.Tampouco eu gostaria de escrever sobre perfeição, porque desconheço essa graça, ela não está para nós, meramente mortais… Humanos.
Na máxima de Heráclito, “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio”, eu bem sei que as coisas se modificam a cada estrofe e nesse mesmo passo, observo que não se pode passar uma existência cometendo os mesmos erros. É preciso cometer novos e fluir em novos rios. A verdade é que ninguém deseja o dissabor de patinar demais em vista de terceiros e acabar por desabar novamente na frente do próprio espelho. A sós.
Estamos mesmo submersos em águas que tem um pouco deles e muito de nós, ademais, no limiar da éter o que nos resta é navegar com a miscelânea dos fatos que nos compõem e permanecer nesse rio que nunca é igual e que invariavelmente pode acabar nos levando para bem longe… Com a licença de Fernando Pessoa, em “Quando Falo com Sinceridade não sei com que Sinceridade Falo”:
(…)
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
