Ana D`Avila | A casa geriátrica

Diferente da alegre casa das meninas e da casinha pequenina do cancioneiro brasileiro, a “casa geriátrica” é muito triste. Difere das alegrias, das danças, e nos dá a dimensão exata do ocaso da existência. No ar, fragmentos do passado, restos do que se foi, e algumas dores infinitas.

Num canto da sala, compartilhada pelos 18 hóspedes que moram ali, um velhinho faz um lanche. Ao lado, sua bengala. Na mesa, suco e frutas. Seu olhar é melancólico.

O que leva um familiar a deixar seu pai ou sua mãe num asilo, melancólico como todo o é?

 Sei lá! Porque a vida prossegue… Talvez, filhos e filhas necessitam trabalhar, cuidar de suas próprias vidas. E os idosos precisam de atendimento médico e psicológico quase 24 horas por dia.

Só o amor, parece que não basta. Ajuda muito, mas não basta. Até para o asseio diário os velhos necessitam de apoio. Na casa geriátrica, os banheiros dispõem de vasos de estruturas especializadas, para não haver escorregões nem tombos, pois a maioria dos idosos tem problemas de visão e de motricidade.

Num outro espaço dentro da casa, existe uma pequena sala de música. Um piano e sofás confortáveis amenizam um pouco a tristeza do lugar. Fim de todos. Ou de alguns privilegiados que podem passar seus últimos dias no conforto, já que envelhecer no Brasil sempre é problemático.

Se não são as dores físicas, são as dores do abandono, do negligenciar, do menosprezar. Muitas famílias optam por entregar seus idosos à estas casas geriátricas, por contarem com profissionais dedicados. Por querer o melhor para seus familiares.

No olhar de seus habitantes, mora um vazio existencial. Muitos, por problemas de saúde mental, até se esquecem do seu passado. Mas os lúcidos, mesmo os sadios intelectuais, ainda enferrujam o andar. Ainda enxergam com dificuldades. Sabem que o caminho está seguindo a passos largos para o fim. Fim de quem amou. Fim de quem lutou. Fim de quem um dia nasceu criatura humana.

A casa geriátrica esconde os fantasmas que insistem em morar com a gente. E mesmo não acreditando neles, um dia eles aparecerão em nossas vidas. Cansados e curvados. Surdos e entorpecidos. Para talvez, dividir sua última refeição. Depois, o segredo eterno de quem cerra os olhos.
Depois, saudades.

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