Ana D`Avila | As loucas da anistia

De 1964 até 1985, o Brasil viveu o flagelo da ditadura militar. Quem acompanhou de perto aquele período da vida política brasileira não deixou de se revoltar. Pessoas eram perseguidas, demitidas de seus empregos, torturadas, muitas “desapareciam”. Tivemos milhares de mortes, fruto da crueldade do regime autoritário instaurado no país.

Os militares puseram em prática vários atos institucionais, culminando com o AI-5, de 1968, a suspensão da Constituição de 1946, a dissolução do Congresso Nacional, a supressão de liberdades individuais e a criação de um código de processo penal militar que permitiu ao Exército brasileiro e à Polícia militar (que, pasmem, só existe no Brasil nos dias de hoje) pudessem prender e encarcerar pessoas consideradas “suspeitas”, além de qualquer revisão judicial.

Várias mulheres brasileiras sofreram torturas e humilhações. Francisca Brizola foi uma delas. Além de ser militante política, Quita, como era chamada, tinha o estigma de ser irmã de Leonel Brizola. Foi perseguida e forçada a se aposentar com apenas 12 anos de serviço junto ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários.

A primeira reunião da anistia em 1974, da qual participou, aconteceu no México, durante o Congresso Internacional da Mulher, promovido pela ONU. De volta a Porto Alegre, Francisca participou da primeira reunião do movimento pela anistia da Associação Riograndense de Imprensa. Na época, o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher era presidido pela socióloga Lícia Peres. O grupo reuniu cerca de oito mil mulheres gaúchas e foi instalado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre em julho de 1975.

Com suas companheiras Mila Cauduro, Lígia Azeredo Costa Maria Flor Vieira e Suzana Lisboa, Francisca Brizola ousou lutar por justiça em plena ditadura. Por isto, eram chamadas “As loucas da Anistia”. Em reuniões secretas, elas não se intimidaram com o monstro do cerceamento político. Altamente politizadas, sensíveis aos problemas sociais de justiça e cidadania, foram à luta e venceram.

Estas mulheres são precursoras de um movimento que tomou fôlego no Brasil e que trouxe de volta todos os exilados políticos, entre eles, Leonel Brizola, José Dirceu e Fernando Henrique Cardoso. Dilma Rousseff também sofreu na época, torturas e humilhações. Sobre o assunto, ela disse: “O que mata na ditadura é que não há espaço para a verdade. Não há espaço para a vida. Aguentar tortura é algo insuportável porque somos muito frágeis. Somos humanos. Sofremos dor”.

De hábitos simples, Francisca Brizola morava num pequeno apartamento da Rua João Teles, no bairro Bonfim, em Porto Alegre. Tinha um desmesurado amor pelo irmão Leonel Brizola. Colecionava jornais e fotos dele. Brigava por ele. Fazia política engajada sempre na defesa da justiça social. Guardava em sua memória grande mágoa do governo militar. Era uma mulher de temperamento forte. Quando a conheci, ela já beirava os 70 anos. Gostava muito de tomar café e falar dos feitos de seu irmão, do qual era madrinha.

Leonel de Moura Brizola nasceu no dia 22 de janeiro de 1922 e faleceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 2004. Foi um influente político brasileiro, lançado na vida pública por Getúlio Vargas. Brizola foi prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul, deputado federal pelo extinto Estado da Guanabara, e duas vezes governador do Rio de Janeiro. Sua influência política no Brasil durou aproximadamente 50 anos, inclusive enquanto exilado pelo golpe, contra o qual também foi um dos líderes da resistência. Morreu aos 82 anos de idade, vitimado por problemas cardíacos.

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