Ana D`Avila | Ecos do sítio

Era um lugar aprazível. O ônibus transcorria numa estrada sinuosa até chegar naquelas terras. De cima do penhasco se avistavam pequenas casas lá embaixo. Todas muito coloridas em estilo  enxaimel onde viviam pessoas muito simples.

Naquele vale, a voz se transformava em ecos que pareciam engolir a vida e o lugarejo. Não era raro pessoas chegando. Na descida do ônibus lá em cima, gritavam mensagens para os parentes que moravam nas casinhas em declive. Desciam do coletivo, que seguia viagem. Cumprimentavam com o bom dia. Cantavam. E a voz ia se alastrando por entre árvores frondosas e pequenos riachos. Até finalmente chegar ao seu destino.

– Bom Diaaaaa!

No inverno havia laranjas e bergamotas à disposição dos visitantes. Em todas as casas existiam plantações. Cães que pastoreavam ovelhas. Cavalos, bois bravos e um córrego que mais parecia um rio. Nele, peixes e cobras. No verão não faltavam melancias para deliciar todo mundo. Colhidas ali, naquele chão, naquela terra.

Abelhas circulavam entre as laranjeiras. E picavam as pessoas da cidade que não conheciam os segredos rurais. O alerta era de um peão:

– Cuidado quando for colher frutas no pé. As abelhas daqui são ferozes.

Alerta também para as roupas chamativa:

– Cada animal tem um tipo de visão. Eles atacam as pessoas por causa da cor vibrante.

As pessoas obedeciam. A cada ônibus que chegava, este aviso era repetido.

Na sala das casinhas havia pessoas conversando sobre as amenidades da roça. A maioria descendia de italianos e alemães que vieram colonizar o solo gaúcho. Muitos falavam dialetos da Bologna e de Hunsrück. Aparentavam muita força muscular devido à alimentação. No café da manhã não faltava broas de milho, ovos, leite e aipim.

Água encanada e luz elétrica não existiam. Mas no declive de alguns terrenos havia pedras que jorravam água cristalina. E as pessoas coletavam a preciosidade em latas para a manutenção das casas. Era um trabalho árduo, mas a bebida que nos garante a vida tinha qualidade e frescor. Nos dias tórridos de verão, ela parecia refrigerada.

Existiam pequenos armazéns para compras de mantimentos, contudo, pouca coisa era comprada. Açúcar, sal, as farinhas. Todo o resto havia no sítio, assim como os grandes galpões onde eram guardadas as ferramentas da roça e as montarias.

O pessoal que visitava o lugar sempre saía com mais harmonia e leveza do que quando chegava. Os gritos e os ecos das palavras pronunciadas jamais eram esquecidos. Assim como o ônibus amarelo que, num zigue-zague entre o verde das árvores, serpenteava o caminho de exuberante paisagem.

Bem ao longe, uma estradinha de chão batido. Nela uma santinha no seu altar típico. Ela,com certeza, guardava os visitantes e protegia o povo do lugar.

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