O apartamento tinha cheiro de passado. No corredor nenhuma voz. Nenhum ruído ou música. Tudo, com o dia passando, ficava estranho. Que liberdade era esta, se nada podia ser feito ou imaginado? Que vultos remoíam aquela tarde? Que custava a passar. Embora fosse desprovida de qualquer perturbação de gente ou barulho. A liberdade tão almejada não significava nada diante da solidão.Assim nesta paz perturbadora, onde se escondia a felicidade?
Nenhum amigo para conversar. Ninguém para te ouvir. Absolutamente nada. Entendia agora, a ânsia por falar. Contatar desconhecidos. Berrar pela rua: estou só, não me deixe aqui! A pior coisa desta vida maluca é a aparente solidão. De que adianta a liberdade, se não existe ninguém que te ame, ou rejeite, ou berre contigo por motivos toscos.
Naquela tarde os demônios do desencanto chegaram com suas trombetas estúpidas. E não houve tempo para conversar, para almoçar, para compartilhar uma janelinha indiscreta que tudo via num silêncio perturbador. Nem uns goles daquela cerveja de ouro foi degustada. Que muitas vezes, era o único antídoto para a depressão.
Num canto da cidade, um enfrentamento passional. Ciúmes, esgotamento nervoso, atropelamento de vida.Uma discussão inútil parecia ser a tônica daquele momento. Momento de contradições. Tudo em si, explicável pela espiritualidade. Por que enxergamos defeitos em quem nos ajuda?Em quem divide com a gente, conhecimentos tão diferentes e ao mesmo tempo, tão importantes.E angústias, de gente que conhecemos e não entendemos.Depois uma chegada ao quarto vazio. Sem abraços ou beijos. Sem contemplação de nada. Ai estranha liberdade, não ouso te escutar! Liberdade é para os pássaros que sabem voar. Penetrar em nossas casas sorrateiramente e nos fazer sonhar.Sonhar que somos alguém e que temos importância. Quando em verdade, somos apenas pedaços de carne.Circulando entre nossa própria luz, o precipício e a liberdade. Percorrendo o caminho espiritual de uma terra em evolução. Somos todos prisioneiros do destino numa bolota redonda e colorida que se chama Terra, navegando em universos outros pelo espaço do nunca. (Ana D´Avila)