Antes de mais nada, nossa solidariedade às pessoas afetadas pela desgraça climática. Nosso reconhecimento, em igual proporção, a todos (as) os heróis e heroínas que ajudaram, ajudam e seguirão ajudando na reconstrução do Rio Grande do Sul. Dito isso, pedimos licença para retomar os pitacos ligados à arte de chutar a bola.
O centroavante Diego Costa foi um dos atletas que deixou a zona de conforto e foi para a linha de frente para exercer a solidariedade no fatídico mês de maio. Dentro de campo, contra o Huachipato, foi tão monstruoso quanto – guardadas todas as proporções, evidentemente! Não apenas pelo gol típico de centroavante, mas pela capacidade de “sujar o uniforme”. Mesmo consagrado mundialmente, e do alto de seus 35 anos, incorporou o “DNA gaúcho” e é a síntese perfeita da retomada do tricolor na Maior das Américas.
Desde a vitória contra o Estudiantes na Argentina — mesmo antes das enchentes —, o time de Renato tem sido cirúrgico na estratégia e no pragmatismo. Quando é possível, imposição técnica e bom futebol, como na goleada de 4 a 0 semana passada, no Couto Pereira, contra o The Strongest. Quando a adversidade se impõe, porém, aula de negação de espaços e organização para “saber sofrer”.
No Chile, empilhou chances na etapa inicial quando o gramado ainda era minimamente praticável. Na etapa final, com ainda mais frio, vento, chuva, e acusando o desgaste físico, ativou o modo “Campeonato Gaúcho”. Assim, fez do contestado Marchesín o melhor em campo e novamente transformou Kannemann em emblema da Imortalidade.
O tricolor terminou o duelo repleto de zagueiros e volantes, adotando a estratégia “retranca na cara dura”. No aspecto tático, porém, novo acerto de Renato na leitura de cenário. A presença de Gustavo Martins deixou o time com 3 zagueiros para vigiar os 2 centroavantes rivais. Com João Pedro e Reinaldo presos, formando linha de 5 defensores, também houve negação de espaços pelas laterais, evitando os cruzamentos da linha de fundo.
Sem Mathías Villasanti, o ex-jogador do Santos, Dodi, tem dado conta do recado. Camisa 5, feijão com arroz, mas eficiente e um dos pilares defensivos. Outro ponto elogiável foi a postura do goleiro reserva Caíque. Mais um que envolveu-se nas tarefas humanitárias na zona norte de Porto Alegre. Na Bolívia, atuou quase como um auxiliar de Renato. Ativo no banco de reservas, foi um dos que mais vibrou com Marchesín — seu rival pela titularidade — ao final da partida. Ilustração perfeita da união do grupo e do bom ambiente de trabalho, como citado pelo treinador na entrevista ao final da partida.
No sábado, contra o já eliminado Estudiantes, o tricolor depende apenas de si para classificar-se em primeiro. Uma situação pouco tempo atrás impensável. Embora a reação mereça aplausos, ilustrada por 100% de aproveitamento nos últimos 3 jogos, o Grêmio acabou “tropeçando” nas próprias pernas no início da competição. Afinal, pelo nível de dificuldade do grupo, em tese, não seria necessário invocar a imortalidade. Menos mal que houve tempo para o renascimento.
Que venha o Peñarol ou o Fluminense. Jamais duvidem do Grêmio. Respeitem o futebol gaúcho. Que venham novas façanhas também em azul, preto e branco.