Ana D´Avila: Estranha simplicidade

Ela vivia com pouco. Muito pouco. Como vivem os passarinhos. Cantando e voando. Para lugares quase esquecidos dos mapas geográficos. Como os pássaros, catava sua comida. Direto da terra. Que nunca excedia em sofisticação. Tudo era simples. Desde a comida, suas roupas e inquietações sobre a vida. Para viver basicamente precisava de ar e água.

No sítio onde morava, seu sustento vinha das árvores frutíferas. E da mãe Terra, com plantação de batatas, aipim, abobrinha, chuchu  e cenouras. E, de uma cachoeira, que a muitos anos, jorrava uma água cristalina. A água descia num filete por uma grande pedra. Anos e anos e jamais secava. A sensação que se tinha ao bebê-la, é de que era refrigerada. De tão gelada e pura que era. Num balde a água era carregada diariamente para dentro de sua casa. Para as necessidades normais: alimentação, limpeza e asseios.

Um grande baú de cor marron, era a principal peça da sala. Ali eram guardadas vestes e lembranças. Os vestidos,confeccionados por ela mesma, tinham um estilo rural. Golas altas e, em sua maioria, compridos. Era recatada. Jamais mostrou as pernas ou o pescoço. As blusas também tinham golas altas. Seu tipo era mignon. Em muito sua pequena estatura lembrava também os passarinhos.

Não chegou, em sua vida, a conhecer nenhuma  grande cidade. Nem o mar. Nem shoppings e restaurantes. Entrou certa vez, num cinema na cidadezinha colada ao sítio e não conseguiu deixar de ficar preocupada. Com tudo. Com o tamanho da tela, com a estória, e principalmente pelo filme que escolheu. Era sobre farowest. Briga entre cowbois e índios. E os índios tragicamente, sempre perdiam. Ela não gostava. Torcia pelos índios. Seres humanos que respeitam a terra e tudo o que ela oferece.

Foi num dia de ventania que ela se foi.Tinha 73 anos. Após um almoço vegano que soou como uma despedida. Talvez tenha viajado para outra dimensão. Talvez tenha exigido pouco da  sua passagem terrena. Até  na sua morte, teve notória simplicidade: um terço e uma imagem de Nossa Senhora. Jamais esqueceu a insuperável fé que tinha em Deus. Nem no benefício que a terra agriculturável proporciona aos seres humanos.

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