Vivemos, teoricamente, em um país laico. Numa quinta-feira – no dia 9/7/2020 – o prefeito de Viamão Valdir Jorge Elias, o Russinho, do MDB, reuniu-se com os pastores Devane Araújo (representante do trabalho Unigrejas do RS), Alessandro Silva e o vereador Xandão Gomes (Republicanos). A princípio, a pauta da reunião era sobre o auxílio prestado pelas igrejas, sendo que a proposta seria colocá-las à disposição do município.
A verdadeira intenção por trás disso é promover a igreja evangélica como a religião principal do Estado. Uma campanha política somente evangélica em um estado laico. Imposição do vereador Xandão Gomes, que faz parte da bancada evangélica.
Agora fica a minha pergunta: Por que somente representantes da bancada evangélica? Por que não de outras religiões também como, matriz africana, centro budista, entre outras.
O Estado é laico somente na Constituição de 1988, determinando a liberdade religiosa e divisão entre Estado e Igreja (art.19, I), mas a laicidade de Estado foi excluída em um projeto religioso excludente (evangélico). De acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 86,8% da população brasileira é formada por Cristãos, 64,6% Católicos e 22,2% Evangélicos.
Boa parte da crença evangélica baseia-se no interesse material e político, com o objetivo de evidenciar somente a sua crença. O Estado não deve ser de uma única santidade ou de uma única concepção religiosa. O povo brasileiro tem diversos entendimentos religiosos, conhecido como transcendentes. Quando o prefeito optou por uma destas crenças, ele colocou a mesma acima de todas as outras. Cristo considera todos são porvindouros de seu pai e não somente os que têm fé nele.
Quando o Presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) replica a frase: “Deus acima de todos”, ele fortalece o movimento Neopentecostal que é composto por um grupo político que se encontra no âmbito do Legislativo, que no ano de 2014 passou a contar com 70 deputados evangélicos, “conhecidos como a Bancada Evangélica”. Sendo assim, promovendo intolerância religiosa e exigências de crença que contrariam a liberdade religiosa e de pensamentos controversos à Constituição do país. Os mesmos são responsáveis por atacar a comunidade LGBT, demonstrando que este grupo lesa os chamados "valores cristãos". A bancada criou um decreto legislativo conhecido como a solução para travar o crescimento da comunidade LGBT “cura gay” (PDC 234, 2011) se mostrando contrária a razão pública.
Não podemos crer na veracidade de uma única religião, pois quem tem fé de verdade jamais vai pôr sua entidade maior acima das demais. Impossível compreender religiosidade autêntica em um plano de poder, quem tem interesse em realizar boa ação por meio religioso, não deve usar o controle, só goza do poder quem pretende lucrar com ele.
No Brasil há diversos tipos de crenças, que impactam diretamente no modo de vida da sua população, que é heterogênea e diversificada. Assim, formando um ambiente público que não promove exclusão e discriminação religiosa. Não podemos nos esquecer que somos um país dos nativos e africanos, não podemos acreditar que somos uma nação de origem puramente europeia. Por isso, devemos compreender a crença de todos e lutar contra a ideia de uma única fé como correta ou apenas uma divindade, e sim que todas as religiões possam ter o seu espaço.