Ana D´Avila | Minha cerimônia do adeus

As despedias fazem parte da condição humana. A célebre frase das uniões matrimoniais “até que a morte os separe” é muito verdadeira. Simone de Beauvoir escreveu um livro contando de Sartre, de seu relacionamento com ele e dos tempos de sua doença e a consequente despedida.

A morte sempre assusta. E vivê-la com alguém que a gente ama dói imensamente. Por mais amor e companheirismo que um casal tenha, um dia irão se separar. É da vida. É assim que sempre foi. Meu companheiro Nei partiu no início do mês de setembro último. Pela doença que o acompanhava há dez anos, por sua idade avançada (87), eu imaginava o desfecho de sua partida. Mas nunca imaginei que machucaria tanto.

Suas lembranças, suas reflexões sobre vida e morte me marcaram profundamente. Lembro dele nos cafés da manhã, não dispensando, além do café com leite, o pãozinho crocante, a banana e os ovos. Contava dos sonhos lúdicos que sempre aconteciam no seu sono. Dizia que ia para lugares lindos, acreditava em outras dimensões. E contava que morrer talvez fosse uma grande viagem… para lugares distantes no Cosmos.
Talvez agora, ele esteja realizando seu sonho maior: das descobertas.

Quando o conheci na redação do Jornal da Semana, onde trabalhávamos, ele demonstrava ser um desbravador. Gostava de pautas instigantes. Passou por todos os setores do Jornalismo. Adorava o jornalismo científico. Escreveu em certa fase de sua vida para a Revista Planeta. Matérias de cunho científico, tão próprias de sua inquietação sobre os planetas e as questões inerentes à Cosmologia.

Inquieto e curioso, foi o homem pelo qual me apaixonei. O único. Que me deu subsídios para escrever. Me ensinou a satisfação do Jornalismo. Gostava do que eu escrevia, embora considerasse meus textos leves, e algumas vezes cheios de poesia.

Foram 43 anos de convivência salpicada de curiosidades e reflexões. Defino a vida com ele como intensa. Intelectualmente intensa.

Jamais o esquecerei. Como Simone de Beauvoir jamais esqueceu Sartre. Um pensador de sua época. Um homem que foi além de seus sentidos. Além de sua vida terrena. Como Nei e suas viagens cósmicas.

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