Ana D´Avila | O Gato da Venâncio

Não era um bicho de estimação. Mas era gato. Circulava de jeans surrados e camiseta manchada de tinta pela Avenida Venâncio Aires. O dia estava nublado. Mas perto dele, a sensação era de pleno sol. Desceu do carro e rumou até a escola de Informática.Seu caminhar era profundamente másculo. 

Era cortês com as garotas. Não ofendia nenhuma delas. Tratava-as com  respeito ,amor e alegria.Gostava como elas, de ouvir Rock and Roll. Suas composições preferidas tinham letras cheias de mistério, amor e encantamento. Era um gúri de rara beleza, incomparável e único.

Do alto dos seus 24 anos observava a vida com inteligência. Sua pretensão era fazer um curso sobre vídeos digitais. Queria compreender a breve história da montagem das imagens. Talvez no fundo, quisesse mesmo era ser filmado. Talvez alguém já teria dito a ele que era lindo.

Pensava seriamente em se tornar cineasta. Destes que ganham “Kikitos” em Gramado. Destes que sonham alto. Talvez, com alguma obra cinematográfica inscrita no Festival de Cinema de Cannes. Mas eis que adentra à Escola. Com seus longos cabelos castanhos,seus olhos azuis e sua alta pretensão profissional. Gostava do verde das praias catarinenses, embora se encantasse por Torres e pelo Mampituba no Rio Grande do Sul.

As colegas da informática deveriam se perturbar com a presença dele. Logicamente, as apreciadoras de gatos. Fez a matrícula e, semanalmente dirigia-se à central de ensinamento. Estudando muito. Como convém aos gatos inteligentes.

O gato da Venâncio era de Porto Alegre. Um “gúri mui lindaço”, diriam as tradicionalistas. Tinha pais gaúchos. E avós colonizadores do Rio Grande do Sul que, mesclaram suas raças: alemão, francês e italiano. Daí sua pele maravilhosa. Daí sua estatura. Daí sua sede de conhecimentos e, sua presença marcante. Tanto nas aulas de informática como no verão na Praia da Joaquina. Nos bares, regados a chopp e  ensolaradas ruas de Floripa.

Era um apaixonado pelo mar. Surfava amadoristicamente. Sua prancha tinha desenhos psicodélicos. Estava sempre compenetrado. Outubro estava chegando. E a vontade de rever o mar era grande. Assim que a Escola de Informática lhe conferisse o diploma de conclusão do curso, ele viajaria para Florianópolis. Rever amigos, surfar e falar de cinema com as garotas.  Que entusiasticamente, eram apaixonadas por ele. Seu nome, Felício Benetti. Portoalegrense de coração e nascença. E, belo. Muito belo. “Piú bello”! (Ana D´Avila).

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