Em armários com trancas existem segredos. Quem não os tem? Uma palavra que desvenda universos. De paixões, de sofrimentos, de intimidades, de uma alegria só nossa. Contida. Reservada. Não divulgada. E que, pela importância, está trancada no armário azul. Onde não pode ser revelada. Tão pouco entendida.
Em casas de telhados baratos. Em apartamentos de cobertura com “decks”. Em lugares outros, que eu não vi, nem senti. Em mulheres castas. Nas virgens. Nas putas. Que dão sem saber porquê! Gostos e gestos pudicos. A revelação. A sinalização. A comunhão. Tudo se resume. Tudo se define. Tudo, no final, é excremento de quem come.
Bosta!
Na festa. Na dança. No supermercado. No restaurante. Na livraria. Na galeria de arte. Lembranças de quem a gente amou e morreu. Pai, irmão, madrinha. Em que dimensão estarão? Entre os guardados está a palavra “saudade”. Que antecede o riso ou a lágrima.
Saudades do cheiro de couro da maletinha do jardim de infância. Das perninhas magras correndo de bicicleta pela avenida Plínio Brasil Milano. Das idas à Redenção em domingos de sol. Dos passeios de verão pela Pedra Redonda.
A neblina densa desce. Esconde paisagens. Encobre prédios. E ofusca vidas. Vidas oprimidas. Vidas pobres. Vidas de maracutaias. Vidas sem conforto. De pouco dinheiro e muita paz. Se é que alguém pode ter paz, sem dinheiro.
Em Londres, um príncipe, em sétimo grau, varre a rede social procurando o quê? No que será que pensa? O que guarda em seu íntimo armário trancado? Poder e glória? Já tem! O que deseja mais da vida?
Mulheres? Mulheres outras? Homens? Fortalezas, joelhos, cavalos, banquetes, carros potentes, títulos, convites sociais? Saio. Deleto minha conta. Mas ele continua lá. Será ele, um robô?
Devo eu, guardar também um segredo, em meu armário trancado! De que origem seria? De que tempo? Será inconsciente? Às vezes choro, no silêncio de meu quarto nu. Mas não penso em segredo. Talvez na chave dourada. Nas certezas que se vão. Nas incertezas que ficam. Depois comer um parco pedaço de omelete com café preto e novamente “expelir”.