Aniversário de Viamão: o amor pela cidade não pode ter dono ou ser ideologizado

Igreja matriz, uma das mais antigas do Estado e símbolo da Velha Capital

O jeito que encontro para dizer que tenho carinho e olhar além do jornalístico por Viamão e seu povo é afirmando que o município precisa atacar seus principais problemas: desinteresse coletivo e egoísmo. No dia em que a cidade completa 279 anos de fundação e o DV chega a 14 de vida, este artigo abre as comemorações pretendidas pelo Diário para essa terra e sua gente.

É de forma controversa que presto homenagem, com a pretensa autoridade de quem vem de fora e entende que uma cidade com os potenciais locais não pode ser freada por estes comportamentos tacanhos. Explico:
Há os que se investem do amor por Viamão para rejeitar as transformações necessárias. Tal como bolsonaristas e fundamentalistas religiosos que se apropriam de símbolos nacionais e do nome de Deus, parte dos que se dizem viamonenses defendem que aqui as coisas são diferentes, que não podem ser comparadas com a realidade de municípios vizinhos. Pior, muitos desses acham que pensar a cidade é direito exclusivo.

Discordo. As mentes locais dominantes, em boa parte, agem assim para manter o status quo e fazer das suas verdades e necessidades o caminho hegemônico. Não desejo generalizar, mas fato é que o “estado das coisas” na Velha Capital favorece a poucos.

Qualquer um de fora da "massa crítica viamonense" tem sua legitimidade questionada. Em minhas duas passagens pelo DV, não foram poucas as vezes em que fui atacado não pelas ideias, mas pelo pecado mortal de “não ser de Viamão”. Os mais sutis me ofertam “conselhos” de que preciso me conectar ao pensamento local.

Os exemplos são muitos: chega um secretário novo para a Administração municipal, e a primeira coisa que fazem é questionar se ele é “nativo”.  É uma ode ao diferente que retarda o tão discursado progressismo. Para desmerecer, basta dizer “esse não é daqui”.

Ao buscar as origens de Viamão, encontrei expressões como “terra de passagem”, de migração. Termos óbvios para qualquer pedaço de chão em um continente ocupado e colonizado por europeus, mas que parecem ignorados pelo “viamonense raiz”. Quando a espada, a pólvora e a doutrinação religiosa cederam, estas terras passaram a receber homens e mulheres de diferentes raças e credos em busca de vidas novas. Uns duzentos anos após, o êxodo rural e o baixo preço da terra na área urbana geraram a onda migratória que fez desta uma das cidades mais acolhedoras do Estado.

Percebem a ironia?

Por qual motivo esse povo humilde que escolheu viver aqui aceita esse comportamento segregador? Minha tese é de que falta identidade. O morador de Viamão é tão excluído dos processos, das coisas da cidade, que não cria a sensação de pertencimento e deixa as decisões para os “que se consideram daqui”. Ou seja, o desinteresse realimenta a máquina que exclui a coletividade.

Essa individualidade transforma a cidade numa panela de caranguejos onde nada acontece. Conhecem a metáfora? Deixe um recipiente cheio desses crustáceos vivos e mesmo sem a tampa, nenhum fugirá. “Egoístas que são”, um puxará o outro para baixo e todos seguirão estagnados no mesmo lugar.

O Diário de Viamão, fundado em um 14 de setembro para homenagear a cidade – inclusive ostentando seu nome – cumpre papel social e jornalístico ao promover crítica e debate, ao cobrar o desenvolvimento social e econômico, ao exigir respeito ao cidadão. Esta terra é prodiga em oportunidades, basta comparar: quantas mais do entorno têm em seus limites territoriais meios para gerar riquezas através da indústria, do comércio, da agricultura, da pecuária, da pesca, do turismo e de seus recursos minerais? Temos chão e gente para tanto. Passou da hora de fazermos acontecer.

Feliz aniversário, Viamão. Que o amor e a sensação de pertencimento sejam cada vez mais coletividade e menos "propriedade ideológica".
Vida longa e dias melhores a todos!

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