Quando entrei naquela igreja, com o coração apertado e as lágrimas inútilmente contidas, soube que eu já não era mais a mesma de alguns segundos atrás. Quando sentei no banco de modelo longo que perfila o salão daquele templo, e me ajoelhei sob a madeira em que ajoelham-se as pessoas que agradecem e as pessoas que lamentam, imediatamente eu soube que algo dentro de mim tinha ido embora e senti a lapidação de algo novo surgindo bem ali, dolorosamente, naquele instante. Bom ou ruim? Somente o tempo diria.
Os acontecimentos da vida, felizes ou tristes, não detém-se apenas no minuto em que ocorrem, pelo contrário, eles permanecem reverberando dentro de nós. Como uma luz incandescente, acompanhando todos os nossos passos, e moldando o nosso futuro. Somos o produto disso, desses processos de ferida e cura.
A alegria afeta, a dor afeta. E o sofrimento, embora evitado, é o estado de espírito que tem maior potencialidade de nos beneficiar com transformações a longo prazo. Sofrer faz com que a gente pise no chão, e isso não significa contar apenas com a racionalidade, tornar-se ateu ou algo do tipo, significa inclusive, admitir que há de se contar com a fé para viver. As coisas vão reverberando dentro da gente, e o velho mistura-se com o novo, ganha outra face, vira outra COISA. Permitir que as mudanças ecoem em todos os cantos do nosso coração, que a água entre e lave – e leve, isso é mais importante.