Avesso

Tudo naquela manhã tinha aspecto de contrário. De avesso, insuportável. E o sol também nem quis aparecer. Cinza. A manhã estava cinza, opaca, teimosa, não valeria a pena insistir. Era assim. E não teria caminhada nem olhares para as ondas, nem nada. Mas o mundo dava voltas. Eleições ali, amores acolá, compras, dinheiro e camas. Camas de prazer e sofrimento. Hospitalares, as piores. De motéis, as melhores. A nossa própria, retrato do avesso. E assim amanheceu.

Teresa abre a janela. Só entra maresia. Detonando aparelhos elétricos. Desde a geladeira até computadores e aparelhos de televisão. Bom morar pertinho do mar. Mas prepare-se para a destruição marítima. Ela chega em forma de umidade , virando gelo. Depois  vai esfriando e destruindo a aparelhagem.Maresia. Na sala de consertos de aparelhos de TV inúmeras marcas e tamanhos. Todos receberam a tal da umidade marítima e estão ali para o conserto.

Teresa no meio daquela sexta-feira molhada até ameaça sorrir.Lembra do beijo do namorado e de suas façanhas para chamar sua atenção e fazê-la rir. Ele era muito teatral e cômico. Mas quando queria embrabecer, ela saía de perto. Ficava como ele próprio dizia: “Como um cão chupando manga”. Mas ela o amava e o suportava. Ele também a suportava quando ela passava o dia tomando café.Que segundo entendidos americanos, é a primeira droga consumida no mundo. Teresa achava que era um estimulante que lhe fazia muito bem.Na rua umidade, para combinar com o dia. E menos pescadores e surfistas. Até eles, curtidores de mar neste dia, estavam avessos. As pranchas foram esquecidas e as carretilhas de pesca escondidas em garagens outras. Não haveria peixes nem ondas. Teresa num flash quase chorou. Mas precisava ser forte. Enfrentar desafios e desempactar.Contrariando promessas, abriu o vidrinho de café solúvel, salpicou leite e tomou. Esperando estimular-se.Esperando que a tal denominação de droga fizesse efeito.Cerrou ao olhos por um instante e dormiu. Um soninho rápido. Como que apaziguando o avesso de tudo que ali, nesta dia, existia. (Ana D`Avila).

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