O presidente Jair Bolsonaro está a um passo de marcar um grande gol para seu mandato. Um gol, tipo "gol de craque", que mesmo diante da imponderabilidade muda o placar a favor de seu time. Mas diante da goleira adversária, o chefe do Executivo parece titubeante. O temor se expande sobre a arquibancada.
Bolsonaro não quer divulgar os exames sobre possível infecção pelo Coronavírus por sentir-se "violentado". No Judiciário surgem decisões contraditórias sobre a necessidade de comprovação do real estado de saúde do presidente em relação à doença, ou seja, se ele já foi ou não infectado. Ainda no sábado, o TRF-3 acatou e depois suspendeu recurso da Advocacia Geral da União da decisão inicial que exigia a exibição dos papéis que garantiriam sua descontaminação.
O que não consigo compreender é o motivo da atitude defensiva do presidente diante de um documento que pode garantir diante da população a seriedade de seus argumentos em relação à COVID-19. O "passaporte" para exigir dos prefeitos e governadores a ampliação dos serviços e a retomada do comércio. Consideremos a partir daí duas possibilidades.
No caso de um resultado negativo para Coronavírus:
– Testemunhamos durante o decorrer pandemia, anunciada pela Organização Mundial da Saúde ainda no princípio de março, que Bolsonaro confraternizou com apoiadores sem cumprir qualquer protocolo, mesmo aqueles exigidos pelos seus próprios ministros, promovendo aglomerações, cumprimentando correligionários, apertando suas mãos, posando para selfies. Sempre de cara limpa, sem máscara. Se ainda assim não foi contaminado, poderia arguir com maior ênfase que a pandemia realmente está causando muita "histeria". Poderia ressaltar seu "histórico de atleta" como escudo natural.
Agora, no caso de um possível resultado positivo, a situação seria bem diferente:
– Hoje já se sabe que mesmo as pessoas que não apresentam os sintomas mais agudos da doença podem transmiti-la a outras. E aquelas infectadas podem sim evoluir, dependendo de seu estado de saúde, para um quadro de crise aguda de respiração e vir a morrer sem ar. Um resultado positivo, portanto, determinaria à Vossa Excelência sua qualidade de "vetor ativo" de um mal que tentamos vencer por meio da quarentena.
Bolsonaro, no centro do palco, com a bola em seus pés, faz um jogo de luz e sombras diante de uma informação dramaticamente importante. Algumas vezes garante que não foi afetado pelo Coronavírus, em entrevistas e pelas redes sociais. Mas em sua recente visita ao Rio do Grande do Sul, Bolsonaro mudou o discurso, trazendo mais tensão para a plateia que acompanha atenta. "Eu talvez já tenha pegado esse vírus no passado, talvez, talvez, e nem senti", afirmou em entrevista à Rádio Guaíba.
Na dúvida durante, a posse do novo general do Comando Militar do Sul, militares de alta patente preferiram cautela. Pelo menos dois generais que participavam da cerimônia preferiram cumprimentar Bolsonaro com o cotovelo após o presidente estender a mão.
Enquanto isso as medidas de flexibilização vão sendo tomadas sem que a população mostre convicção a respeito do perigo que o vírus representa. Aliás, parece aceitar mais a versão da gripezinha. Até o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que dificilmente tem o Brasil como pauta de suas entrevistas, demonstrou preocupação com os atuais níveis da infecção no país. Apenas mais um dado alarmante, pois Trump jamais seria comunista, nem mesmo se a Terra fosse plana.
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