Três horas da manhã e ela acordou. De um sono leve empreendido ali pela meia noite. Num salto atrevido pulou da cama e rumou para a cozinha. Um café com leite a esperava. E estava fresquinho, com aquele cheirinho característico.
Na tarde, havia rompido com o namorado. Talvez por este motivo seu sono foi interrompido. Mas nada no mundo era tão gostoso quanto uma xícara de cafezinho. Nem o beijo do namorado. Nem nada.
Ele, um guri de Porto Alegre, estudava na PUC. Queria ser médico e estudava à noite. Parecia intranquilo, fumava seus baseados imaginando que a vida não poderia ser melhor do que era. Considerado um filhinho de papai, ganhava mesada do pai e de um tio rico, dinheiro para todo mês custear a Faculdade de Medicina, onde estudava.
Bem apessoado tinha três namoradas. Uma delas também estudava Medicina almejando a área da psiquiatria. Ele, entretanto, queria ser cardiologista. Achava o coração um órgão maravilhoso e especial do corpo humano. E era.
Com seu estetoscópio, certo dia, auscultou seu próprio peito e, maravilhado, ficou sem palavras para descrever o que sentiu. Uma sensação de vida, de suprema alegria por estar vivo e estudar o que lhe dava prazer e alegria.
Completando 28 anos, num sábado de tempo firme, ele um tanto gênio, recebeu seu diploma com honraria. A família toda estava presente neste ato. E a namorada escolhida também.
Era uma mulher inteligente. Um pouquinho mais velha do que ele, mas que comungava das mesmas ideias e interesses. Ambos estavam em êxtase. E para marcar a data deliciaram-se com um primoroso vinho.
O local da comemoração era uma famosa churrascaria da cidade. Saíram satisfeitos e felizes com seus diplomas e muitas promessas de vida e de trabalho.
A noite da madrugada de insônia do cafezinho faz parte do passado. Agora, o futuro os esperava. De surpresas e de encantos pelo profissionalismo que já se tornava real.