Aquele jeito de viver machucava. O corpo e a alma. Em incansáveis e malogrados dias, de anos e mais anos. A opção foi errada. Nenhum ser com boa consciência e inteligência, escolheria viver assim. Marginal e confuso.Intelectual do avesso. Assim ele se passava por bom moço. Boa pessoa e bom marido.Na verdade, nem marido era. Que tristeza! Quantas lágrimas rolaram em noites de sofrimento vivencial.
Seis horas da manhã .Ela acende um cigarro. Não por vicio. Mas por necessidade de divagar. Caminha até ao mar, onde de certa maneira, reside a paz. Cães madrugadores passeiam pela praia. Correm atrás de pássaros brancos, que aparentam felicidade. A manhã nem se estabaleceu e já havia vida naquele espaço. Um homem caminha para o mar com sua carretilha de pescador. Vai atirar suas iscas e esperar que os coitados dos peixes morram com aquele gancho entalado na garganta. Haja sofrimento!
Algumas necessidades humanas, senão todas, não tem sentido. Que prazer teria aquele homem de voltar para casa e fritar um peixe tão inocente? A necessidade da conquista, de fazer o tempo passar? Ou de um prazer animal? O maior come o menor. Como Teresa que casou virgem. E, que hoje tem certeza, que escolheu a pessoa errada. Como já está machucada da humilhação de conviver com uma espécie rara de ser humano.
No início do casamento até teve momentos felizes. Mas com o passar dos anos viu tudo desmoronar. As pessoas escondem máscaras. Muitas vezes ,horrorosas. Todo ser humano tem em si, a bondade e a maldade. A beleza e a feiura. E sentimentos. Bons e ruins. Tem necessidades insuportáveis e outras fáceis de entender. Teresa não entendia mais seu casamento. O homem que escolheu para se relacionar, a cada dia ficava mais insuportável. Envelhecido ,suado e gritão, espalhava uma energia do mal.Envolvia sua aura de negatividade.
Ela acendia incensos para amenizar os ambientes onde vivia. Mas algumas vezes nem a fumaça do alecrim com canela amenizava o problema. Apelava para magias e sortilégios. Muitas funcionavam. Como o acendimento de cápsulas de cânfora, encontradas em farmácias. Aprendeu a fazer isto com uma cigana idosa que leu sua mão. E, que lhe disse que no fim de sua vida ela seria feliz. Não duvidava nem de magia nem da cigana. Mas o momento que vivia,não era nada agradável.
Com um antigo terço de contas marrons, iniciava agora uma corrente de orações. Haveria de, a normalidade e a felicidade, lhe acompanhar. Tinha muita fé em Deus. Acreditava no invisível. Apagou o cigarro numa pedra na praia. E voltou para casa mais calma. Tinha necessidade de sua espiritualidade. Precisava entender a natureza, Deus e as pessoas. Até seu marido,que a perturbava. Que vivia sempre, num caos emocional. O que procurava? Nem ela sabia.