Carta para meus filhos #01

Meus filhos, tenho coisas que quero compartilhar. Por que estou escrevendo esta carta antes mesmo de vocês nascerem? Tenho meus motivos, que são particulares e devem ser respeitados. Muito dei explicações para muitas pessoas sobre meus pensamentos e ações. Agora não dou mais. Ou melhor, avalio para quem estou dando esclarecimentos. E isso porque muitas pessoas com quem convivi nas instituições de ensino, nos ambientes profissionais e até mesmo em eventos sociais, se mostraram intolerantes. Enquanto estão ouvindo, não pensam se os argumentos fazem ou não sentido. Estão focadas prestando atenção em falhas, porque querem achá-las – e se não acham, inventam – para desconstituir as explicações.

 Afastem-se destas pessoas que têm um posicionamento pré-estabelecido e imutável. Elas querem reclamar. Quando ouvem uma explanação convincente com elementos suficientes para fazê-las mudar de ideia, terão que fazer algo muito difícil: admitir que estavam erradas. E elas não gostam disso. Não percam tempo precioso dando explicações a quem só quer desmotivá-los. Além disso, meus queridos, enquanto vocês estiverem fazendo algo com amor e dedicação, não precisam explicar nada para ninguém. Desde que dentro da lei. Se alguém não está entendendo e precisa de explicações, azar. Que vá achar o que fazer ao invés de ficar pedindo atenção.

 Pode parecer frieza minha, mas na verdade sou um cara bem sentimental. Não mais do que Rodrigo Amarante cantando “quem é mais sentimental que eeeeeu?”, mas sou a ponto do meu pai, que aos sessenta anos malha e joga bola, dizer que foi derrubado num jogo e ficou enjoado e vomitou e eu chorar. Um pouco. Mais pela fragilidade e imprevisibilidade da vida do que por causa do seu avô. Imaginem como me senti quando perguntei para ele se sua avó tinha sido diagnosticada com uma doença grave e ele respondeu com silêncio. Eu, que sinto dores de saudade do seu tio que está muito bem morando num país de primeiríssimo mundo e que perco o sono preocupado com minha vó que foi num aniversário e caiu um tombo.

 O que quero dizer com isso tudo é que direciono os meus sentimentos aos que me amam e inspiram. Aos que reclamam e falam coisas que não agregam nada e apenas querem magoar com comentários, sou frio como gelo. Isso porque acredito que não devo dar poder a alguém dizer algo que me magoa. Se eu aceitasse isso, estaria colocando a culpa do meu sofrimento em outra pessoa. E isto não está certo. Não que eu não magoe ninguém. Magoo. Todos magoamos. Impossível alguém, ao longo do curso de uma vida, nunca magoar ninguém. Nós magoamos e seremos magoados, por isso, se forem magoar alguém, o façam dizendo a verdade. Pessoas encararão vocês com olhos marejados e com ódio quando às magoarem sinceramente, mas uma mágoa causada por uma mentira é milhões de vezes pior. Sejam verdadeiros. Muitas vezes vai ser difícil, até porque o mais difícil a fazer, geralmente é o certo a fazer.

 Quero que saibam que o pai de vocês tem uma relação de amor e ódio com essas frases prontas, porque podem ser muito inteligentes e muito clichês. Uma frase que é inteligente e cliché e eu gosto muito é essa: a única constância é a mudança. Podem ter certeza disso sempre. As coisas vão mudar e nada impede que mudem para o bem ou para o mal. Eventualmente, o bem sempre acaba vencendo, mas cabe a nós garantir que vença no nosso tempo. Por falar no nosso tempo, falarei do meu. Nessa época em que escrevo esta carta, predomina na sociedade duas doenças capazes de tirar o prazer de estar vivo. Uma delas é a ansiedade. Ansiedade, meus filhos, é pensar no futuro. É querer que o relógio ande mais rápido porque estão presos em algum lugar que não querem e só podem sair em determinado horário. É achar que agora nunca está bom e quando chegar a sexta-feira estará tudo bem. Quando tiver dinheiro, estará tudo bem. Quando viajar, estará tudo bem. Viver uma vida pensando somente no futuro, sem apreciar o presente, vai fortalecer o sentimento de que o agora é ruim. Sempre precisando melhorar.

 Já o oposto acontece quando vivemos no passado. Para isso há a chamada depressão. Chegar no domingo à noite e saber que a segunda-feira será horrível porque todas as últimas foram. Não querer arranjar outro emprego porque os anteriores foram ruins. Não querer se relacionar com pessoas porque alguém já te fez sofrer. O que causa depressão e ansiedade são as nossas escolhas. Não caiam na armadilha de escolherem sempre o menor de dois males. Não aceitem um relacionamento abusivo por medo de ficarem sozinhos. Não tolerem um emprego ruim apenas por medo de não conseguirem pagar as contas.

 A verdade é que devemos nos empenhar para estar bem hoje. Ficar preso ao que já aconteceu ou apenas sonhando com o que pode acontecer faz com que não desfrutemos do milagre que é estar vivo. Mantenham um pé no passado para nunca esquecerem suas lições e um olho no futuro para planejar o melhor curso de ação para um boa vida, sem nunca esquecer que o presente é agora.

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