Valdir Bonatto aproveitou a tribuna digital da sessão da Câmara desta quinta-feira (15) para falar aos vereadores sobre os seus 100 primeiros dias neste retorno à Administração municipal. Foram cerca de 45 minutos destacando ações de três pasta: Saúde, Obras e Educação. Coincidentemente, as com os três maiores orçamentos – sendo duas delas ricas por receberem frequentes e vultuosos recursos federais e estaduais.
Começo a avaliar o discurso, e logo tenho a mesma impressão do amigo Vilson Arruda, influenciador digital da página Viamão e Daí: Bonatto fez uma série de relatos positivos, porém faltou mostrar as cifras. Foram 100 dias X zero contabilidade. Para saber como e quanto foi investido, só procurando no portal transparência.
Sem desmerecer o prefeito e suas ações – diga-se de passagem acertadas – até aqui, Foi um monólogo. O tucano entrou no link, falou e saiu. Deixou os vereadores que queriam questionar sem a chance para tanto.
Não considero republicano, ou democrático.
Estratégias políticas e de comunicação à parte desses 100 dias de gestão, relembro pontos importantes pela relevância social e também pela polêmica gerada. Sem entrar no mérito, começo pela habilidade política de Bonatto em tomar para si o controle da Câmara através do aliado Armando Azambuja (PSDB), construindo na sequência uma maioria que lhe garante a aprovação dos projetos que desejar.
Na sequência, surgiu o pacotão que continha, entre outros, o pedido de autorização de financiamento que visa a construção de uma nova sede para a Prefeitura. Antes de ir ao principal, preciso relembrar obras importantes como a retomada da pavimentação na Branquinha e o patrolamento e ensaibramento de diversas vias locais.
Chego na Saúde, que merece olhar mais apurado. De longe esta é a pasta prioritária da atual Administração, tanto que Bonatto assumiu o comando direto da secretaria. As crises de corrupção e a pandemia de coronavírus exigiram essa decisão – repito – até aqui acertada.
Para seguir, me valho da ajuda do colega jornalista Rafael Martinelli, que fez análise impecável sobre o momento de prefeituras vizinhas da Região Metropolitana. Transporto para cá, com minhas palavras, os pensamentos dele:
Falar das ações é importante, mas precisamos observar o contexto. A eleição foi disputada, apertada, não teve clima amistoso. Só 320 votos separaram primeiro do segundo lugar.
Bonatto venceu diante de um mar de fakenews sobre sua gestão anterior e sua elegibilidade. Foi metralhado durante quase todo ano passado por milícias digitais no Grande Tribunal das Redes Sociais, como diz o Martinelli. Depois, já na cadeira de prefeito, passou a ver de perto e entender de fato o tamanho das pandemias – de corrupção e de negacionismo.
O acerto de Bonatto é encarar o vírus com a seriedade que ele requer. Contrariou a Granpal, o prefeito de Porto Alegre e o poder dos empresários enquanto os municípios vizinhos remavam para o lado oposto, fechando leitos – Fez o que tinha que ser feito – e isso se prova pelos números da época. Contudo, as decisões preservando a vida são as que lhe rendem mais críticas.
A cidade viveu uma onda de superlotação hospitalar só amenizada pela abertura de novos leitos. E ainda hoje as mortes não cederam – já são 516, sendo 271 em 2021 e 46 apenas nos primeiros 15 dias de abril. a gestão age para diminuir ao máximo os impactos. Há fiscalização, o atendimento nas Unidades Básicas foi reestruturado, a vacinação está acontecendo e há compra de vacinas prevista. O que se pode fazer, está sendo feito.
Falta, entretanto, o básico: bom senso de empresários e população, pois sim, infelizmente, tudo é pandemia. Nada pode ser mais importante no momento.
Por fim, concordo o Martinelli: Bonatto salvou-se das verdades múltiplas de alguns que mentem até quando estão sozinhos. Mas, mesmo no pior momento da história da humanidade, o tucano sabe que vai ter que fazer bem mais. E reconheceu isso no monólogo com os vereadores.