A praia estava vazia. Já não comportava àquela alegria do verão. Dois pássaros sobrevoavam a areia num bailado só inteligível para poetas e apaixonados. Um era branco e outro negro. Pareciam divertirem-se.
Duas moças cruzam a extensão do calçadão rumo ao mar. Um apito soou ao longe. Era a guardiã da praia alertando para que elas não transpusessem a areia. A guardiã era bonita e jovem. Bronzeada e atenciosa. Mas pregava a limitação. Útil em tempos de guerra.
Seguia seu trabalho alertando as pessoas de que a praia estava proibida. Tristes dias hodiernos! Destes de vacinas, remédios que ainda não curam e confinamentos. Tem pessoas que são claustrofóbicas. Como resistir a estes chamamentos de ficar em casa trancados?
A terceira guerra mundial, diziam, seria atípica. E parece que está sendo. Não existe um inimigo declarado. Ele é invisível. Pode estar na sola do seu sapato. Ou na fronha de teus sonos. Ou na maçaneta da porta. "Tempos bicudos", dizia o poeta Mário Quintana. A afirmação dele corresponde totalmente aos dias deste março de 2020.
Mas a guardiã da praia zelava pelos visitantes.Ela queria que eles se cuidassem, preservassem a sua saúde. Todos a obedeceram. Não poderia ser de outro jeito. Ela pertencia à Brigada Militar. Poderia até dar ordens de prisão para quem não concordasse em abandonar a praia.
Que neste dia, igual a ela, estava muito bonito. Mar verde, areia branquinha e um vento morno que não escabelava ninguém. Nem a própria guardiã. Que seguiu em passos lentos pela beira-mar. Seus cabelos, distanciando-se, ficaram da cor do ouro, com o sol refletindo em sua cabeça.