Coluna da Ana D´Avila: A solidão da rua

O elevador chegou. Talvez a ameaça estivesse dentro dele. No chão, no espelho, no painel expondo os andares.Mas ele foi ao térreo transportando pessoas. Pessoas com medo. Com medo de morrer, de uma causa invisível. Seria comprometedor não acreditar que algo no ar está mudando.

A humanidade já não é a mesma. Trancafiados em suas casas já estão em desequilíbrio. Questionam a doença, a vida, o modo de viver, a eternidade e por fim, a morte. Fatalidade que todos temem. Fim último de quem nasceu. E filosoficamente,a indagação: Para que serve a experiência da vida?

 O hall do edifício continuava o mesmo. Cadeiras lindas,plantas, asseio da zeladora e depois a rua.Na garagem, apenas dois carros. Que não eram de veranistas.O elevador anteriormente cheirava a perfume francês. Delícias de canela e outras especiarias. Agora cheira a álcool e água sanitária. Nada agradável,mas necessário.

Deitado num lindo céu azul, o dia transcorria. A rua estava ali. A um passo, a um pequeno andar. A 50 metros, o mar. Bonito, azul, de areia branca. Mas onde encontrar alegria nesta paisagem desértica. Mesmo pensando nos maiores prazeres humanos não dava para achar nada engraçado. As pessoas sumiram.Com suas cadeirinhas de praia, seus bronzeadores, suas cervejas, seus radinhos para a música e seus cachorros. Que sempre farejam, que sempre latem. Agora, estão da mesma forma, assustados.

A extensão da rua com dois ou três carros estacionados junto ao meio fio, é assustadora. O silêncio dos monges, impera. A solidão de quem não vê ninguém é mais que um susto. Vontade gritar. Ou correr. Entendi a loucura dos que correm.Talvez esportivamente nesta correria deixam para o vento resolver seus problemas existenciais.

Fixamente olho a rua. Esta rua que no verão era apinhada de gente .Sair correndo em disparada acompanhando o vento poderia ser agora, uma boa opção. Era quarta-feira, meio da semana. Mas parecia segunda, sábado,domingo ou feriado. O calendário já não ditava normas.

Nem a indumentária e a moda teria mais sentido. Adiantaria vestir um pretinho básico ou um vestidinho floreado no meio da pandemia? Além do mais, máscaras cirúrgicas não combinam com nada. A não ser, com os úteis jalecos médicos. Época que perturba. Nas vitrines ainda há roupas lindas, mas não existem mais festas. Tudo é isolamento social.

Tempos sempre iguais. E a aderência de noticiários apocalípticos fazem o dia ainda mais duro. Tudo é sofrido.Restando sempre um pouco de esperança. Principalmente,com a provável criação de algum antídoto. Que venha amenizar ou talvez curar a insustentável tragédia que a humanidade está sofrendo. O causador de tudo é um vírus. Um ser vivo microscópico. Que inevitavelmente, mata. E é por ele, que todos sumiram. É por causa dele que a vida amorteceu. (Ana D´Avila)

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