A violência demonstrada pelas escolhas da população em relação às eleições e sua sociedade homicida segue mostrando as garras a cada dia no Brasil, o que me deixa deveras preocupado com o futuro do país nos próximos anos. Estamos sendo assolados por ondas de um vento hostil que corroeu a empatia entre os brasileiros e enferrujou o patriotismo. E não me parece que as causas de tamanho ódio interno estejam sendo identificadas corretamente e, muito menos, tratadas corretamente.
Pois vamos aos exemplos que podem levar às ações concretas que abastecem de sangue os noticiários e rendem tanto dinheiro e poder. A maior das manchetes nos últimos dias ficou reservada ao assalto ocorrido em Criciúma, Santa Catarina. Um ataque realizado a uma agência do Banco do Brasil por cerca de 30 criminosos profissionais. O horror causado na população e na própria polícia que acabou acuada por ações estratégicas por parte dos bandidos está registrado amplamente nas imagens de celulares. O valor de R$ 80 mi reais foi subtraído da agência e um Policial Militar acabou baleado e segue hospitalizado. Felizmente não houve mortos.
Fica fácil reconhecer a violência principalmente quando ela eclode da parte de criminosos comuns. Fica fácil reconhecer a violência quando ela é praticada por meio das armas de fogo que deveriam ser de uso estritamente militar. Mas o que mais me assusta é que esta violência tem aval da própria população, dos políticos e de Ministros. Pois notem que o ataque de Criciúma vem antecedido, por exemplo, pela liberação de um dos traficantes mais perigosos do Brasil, há cerca de um mês, o André da Rap. Será que há relação?
O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello liberou com sua assinatura um homem condenado por tráfico internacional de drogas, além de ter ligações com a máfia italiana. Essa violência de toga não fica tão clara assim de se identificar. Claro que assim que foi solto, André do Rap, considerado líder do Primeiro Comando da Capital, que havia sido preso pela Polícia Federal, pegou suas coisas e sumiu. E sei que ainda há ingênuos, ou fanáticos, que vão acreditar que o plano realmente é recolocá-lo na prisão, de onde foi retirado pelas mãos daqueles que o haviam prendido. Então notem que o processo de violência parte daquelas castas que se dizem “zelosas” dos princípios da família.
Eu afirmo, a população não pode se isentar desse processo de degeneração da sociedade brasileira. Em Porto Alegre, o ex-prefeito de Santa Maria quando do incêndio que ceifou 242 vidas em apenas uma noite, em 2013, foi eleito como vereador da cidade. Por que pareceria natural por parte de uma população apostar suas fichas em um político com uma história triste dessas em sua biografia? Você duvidaria que ele fosse alçado a “supersecretário” do prefeito Mello? Não mesmo. Antes pelo contrário, já foi Secretário da Segurança no governo Sartori. Em uma sociedade homicida, quanto mais mortes ligadas a seu nome, maior sua importância.
No comando do Brasil temos um presidente como Bolsonaro. Ele encaminhou sua carreira e de seus filhos na política com um discurso antiquado e preconceituoso em diversos aspectos. Não foram poucas as vezes em que o mandatário máximo da nação homenageou torturadores e valorizou ações do período da ditadura militar Como o Ato Institucional 5 (que determinou o fechamento do Congresso Nacional em 1968) , considerado um marco dos mais sombrios do período. E qual é a reação da população nas urnas? Elegê-lo, assim como todos os seus filhos, em qualquer comarca. Diversos atos antidemocráticos foram apoiados por grande parte da população, cerca de 58 milhões de adultos que votaram em Bolsonaro e acreditam nessas ideias.
Haveria mais e mais exemplos. Assassinatos a sangue frio registrados pelas câmeras cada vez mais sensíveis dos celulares. Cenas de racismo, antissemitismo, homofobia e etc. Entretanto, o que fica claro é que essa violência circula por todas as castas sociais. Já chegou a hora do caos. Quando os tribunais viram presídios e as instituições políticas democráticas tornaram-se redutos de tanta sujeira – o que dizer do caso da deputada Flordelis? Uma coisa pode-se dizer, ela tem imunidade parlamentar garantida, afinal vivemos em uma sociedade homicida.
Assim não se pode esperar outra coisa além de violência. E ela segue espalhando seu poder de forma mais discreta, mas não menos sangrenta, pelas prateleiras dos supermercados, das farmácias, refletida nos preços exorbitantes cobrados pelas grandes redes, mesmo em tempos de pandemia. Vivemos uma época em que a carne de gado vale mais que a carne humana, ou seja, tanto faz estar dentro ou fora do abatedouro, sempre se estará a um passo da morte.
“A violência é tão fascinante e nossas vidas são tão normais.”
Mais uma vez concordo com você Renato Russo…