Coluna do Gustavo: As desculpas e o romantismo

Gosto de analisar meu próprio comportamento. Estou sempre refletindo sobre minhas ações e buscando melhorar. Percebi que amadureço mais rápido quando constato que cometi algum erro. E cometo vários. Por não querer repeti-los, me esforço para ajustar minha conduta e assim, pouco a pouco, penso que evoluo. Creio que a evolução só não é mais acelerada em função de eu apenas conseguir refletir sobre meus erros quando os percebo, porque se os cometi e ainda não me dei conta, não tenho como corrigi-los.

Aceitando ser muito possível eu errar e não saber, tento projetar essa condição nas outras pessoas também. Por isso, quando vejo alguém dar desculpas ao invés de pedir desculpas após ter feito algo que não devia, assumo que ela ainda não percebeu o quê fez. Ela usa um motivo qualquer para se livrar da responsabilidade de ter agido de forma equivocada. É uma fuga comum para quem não gosta de admitir que errou. Pensar assim me ajuda tanto a não criar expectativas pelo comportamento alheio, quanto a não me enganar com o meu.

Explico.

Há um certo tempo, reparei que temos a tendência de julgar de maneira diferente a forma como nós e os outros se comportam. Quando reparamos que fizemos o que não era para ser feito, é tentador (e muito fácil) achar uma bela desculpa para isso. Ou você não se lembra daquele evento que não queria ir, saiu de casa tarde e chegou atrasado “por causa do trânsito”? Ou daquela vez que evitou uma conversa difícil com alguém porque essa pessoa “já deveria ter entendido”? Todos erramos com certa frequência. Alguns mais e outros menos. Independente do quanto, uma explicação e um motivo fajutos estão sempre ao alcance.

Já quando se trata dos outros, não os aceitamos com a mesma facilidade. Quando era mais novo, e provavelmente mais inocente, eu achava que fazia tudo certo e esperava das pessoas o mesmo, criando expectativas muito altas para como elas deveriam agir. Nem preciso dizer que me frustrava bastante por isso. Até que um dia me disseram que eu romantizava demais como as outras pessoas deveriam ou não se comportar, sempre crendo que elas agiriam de forma ideal. Hoje percebo que é mesmo muito romantismo esperar dos outros uma postura sempre adequada ao que julgamos correto.

No futuro, gostaria de perceber e reparar um erro imediatamente após cometê-lo, da mesma forma que gostaria de receber melhor e com mais calma algumas explicações esfarrapadas quando alguém erra comigo. Por enquanto, penso que a saída é aproximar a régua utilizada para aceitar as desculpas que damos quando nos equivocamos, da que usamos para criticar os outros quando não alcançam as expectativas do nosso pensamento romântico.

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