Ao longo dos anos, tive uma vasta quota de professores e orientadores e mestres e diretores e chefes e treinadores e coordenadores. Ou seja, muita gente em minha vida já mandou em mim e cansou de me dizer o que fazer. Em graus diferentes, os considero meus mentores. Aprendi com todos, mas nunca pelo que me disseram, afinal uma lição é melhor transmitida por ações, não pelas palavras. Por isso, seus exemplos me ensinaram como agir e como não agir.
Quando pessoas com o nobre hábito de se comportar de forma condizente com seus ensinamentos os transmitiam para mim, eu absorvia a mensagem e entendia como correta. Já daqueles cujos costumes diferiam das suas lições, aprendi que é fácil exigir dos outros um comportamento. Difícil é aplicá-lo. É mais fácil falar do que fazer. Como um grande amigo meu sempre comenta: não somos o que falamos, somos o que fazemos. E essa ideia já fazia parte do meu subconsciente antes mesmo de ouvi-la.
O convívio com exemplos positivos e negativos me fizeram perceber com clareza a diferença entre as personalidades. Todas as pessoas que em algum momento tiveram qualquer possibilidade de mandar em mim, exigiram disciplina, mas as noções de hierarquia e autoritarismo eram bem distintas. Dos grandes mestres, cuja única exigência era o respeito, aprendi a valorizar o grau hierárquico. Com eles, nossas dúvidas são sanadas com sinceridade e objetivando orientar. Neste caso, quem já passou pelo mesmo que nós, nos instrui para o nosso bem. E isso é raro.
Já o autoritário é comum. O modo mais fácil de identificá-lo é percebendo quando tenta ser temido ao invés de respeitado. Uma vez, um chefe com olhar sério me disse que ele se comparava a um falcão. Porque falcões são independentes e não podem ser treinados e seu instinto fala mais alto. O instinto dele precisava de mais comprometimento e proatividade minha, bem como que eu fizesse horas extras e trabalhasse aos finais de semana. Isso daria mais liberdade para ele apenas decidir. Como um falcão decide estratégias e qual o melhor rumo a seguir.
Ao invés de dizer para ele que não poderia fazer nada daquilo enquanto não formalizássemos minha situação por intermédio de um contrato, apesar de entender que “é melhor assim e evita burocracia desnecessária”, falei que falcões podem ser treinados. Existe todo um esporte em volta disso. Chamado falcoaria (aprendi essa palavra em uma série e achei que nunca a usaria na vida). Fui despedido. O autoritário, quando não enxerga medo nos outros, sabendo que nunca será respeitado, os afasta.
Com o tempo, e com a quota de professores e mestres e orientadores aumentando, consegui entender melhor e construir meu conceito de liderança. Hoje consigo distinguir um líder verdadeiro de um falso quando percebo quem sabe o que deve ser feito e como fazer, e quem inventa uma resposta só para se livrar da pergunta. Por causa disso, “neste exato momento, sob a bananeira, estou começando a ver pardais onde outrora vi falcões, e sua canção não é amarga demais pra mim.” Essa não tirei de uma série de tv, tirei de um poema. E desde os meus primeiros coordenadores ou chefes ou diretores ruins, eu sabia que ia usar.