Coluna do Gustavo | O poder da derrota

Nossas características naturais não são boas. Com o tempo, se não fizermos força para manter a saúde, a criatividade e para controlar nossos pensamentos e ações, acabaremos doentes, preguiçosos, pensando bobagens e agindo por impulso. Quem não se esforça, torna-se um perdedor. E ser um perdedor é diferente de apenas perder. Na vida, perder faz parte. Antes de ganhar, vamos perder. O maior vencedor de todos os tempos em qualquer modalidade perdeu muito mais do que ganhou, mesmo assim, não se deixou tornar um perdedor.

A verdade é que estamos o tempo todo perdendo algo. Ou alguém. Por isso, para evitar traumas, é melhor aprendermos em doses homeopáticas. Ter animais de estimação quando somos crianças, e suportar a dor de vê-los partir, ensina a valorizar a presença de entes queridos. Participar de competições na adolescência ensina a competitividade necessária para buscar nossos objetivos, bem como a derrota nelas exige que saibamos levantar depois de cair, mostrando o valor da resiliência.

Muito mais do que as vitórias, as derrotas nos moldam. Ganhar nos influencia, mas somos forjados na derrota. Lições valiosas entranham nossa carne, avançam até o último neurônio e se alojam no mais recôndito canto da memória quando somos derrotados. O único problema é sentir-se um derrotado. Quem tem medo de perder e por isso evita a disputa, acaba buscando o conforto de pseudovitórias, como ganhar no trânsito ou em uma discussão com um atendente por ter cometido algum erro. São apenas formas de demonstrar superioridade em relação ao primeiro que apareceu para sentir-se bem. Nada disso é uma vitória verdadeira.

Esta zona de conforto é tão falsa quanto qualquer mentira que contamos para nós mesmos. E o pior, enquanto estivermos nos enganando, estaremos caminhando em direção à pior perda que podemos sofrer, aquela ocorrida de forma gradual, mas sentida somente quando concretizada. Deixar de lutar para buscar algo concreto, apenas satisfazendo a falsa sensação de vitória nos leva a experienciar derrotas constantes, contudo, por não as aceitarmos, não obtemos nenhum aprendizado. Enquanto nossa mente nos engana sobre estarmos ganhando, não haverá lado bom na perda, apenas sua dor no momento em que, apesar das nossas negações, a percebemos como inevitável.

Perdendo de forma consciente, aprendemos a dar valor ao que interessa ganhar. Descobre-se a inutilidade de discussões sem sentido, diminuindo a necessidade de brigas por razão. Não brigo para ter razão. Brigo por um objetivo. Brigar por objetivos sempre trará benefícios, tanto na derrota quanto na vitória. Um deles é aprender a comemorar apenas o que deve ser comemorado. Jamais comemorar a derrota dos outros. Esta é uma atitude de vencedor. Ganhar a todo custo ou ganhar arriscando mais do que tem, é uma atitude de perdedor, de quem nunca obteve as lições da derrota. Ganhar roubando é a mesma coisa que perder.

É natural não gostar de perder, da mesma forma que tentar vencer é a única forma de nos mantermos saudáveis. Sabendo que a cada perda estamos um passo mais próximos da vitória, conseguiremos aceitar e aprender com as derrotas, porque elas jamais serão vergonhosas, já fingir ser vencedor é. Apesar de ser tentador deixar transparecer uma imagem vitoriosa, com o tempo, se não lutarmos contra os instintos, ela desvanecerá, expondo os pensamentos e as ações de quem se deixou tornar um perdedor.

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