CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Antes de mais nada, preciso pedir desculpas para o Leonardo Stürmer, do Universo Pop, porque hoje vou fazer o que ele bem faz, todas as semanas na sua coluna aqui no Diário: vou recomendar uma coisa para assistir na Netflix. É claro que corro o risco de ser chamado de CO-MU-NIS-TA (leia com a voz do Bolsonaro para ser mais engraçado), mas não tenho medo disto. Quem lê meus textos e acompanha minhas análises políticas sabe que eu tento não ter lado, ou pelo menos não mostrá-lo para vocês enquanto estou falando sobre política.
Democracia em vertigem é indispensável para quem gosta de política
O documentário “Democracia em Vertigem”, que estreou a pouco na Netflix é indispensável para qualquer pessoa que discute ou gosta de política. Ou pra quem simplesmente vota para presidente de quatro em quatro anos. O doc pode até ser bem melodramático, com enquadramentos expressivos e trilha sonora um tanto quanto tensa, mas com toda a certeza fez muito petista chorar e irritou muito eleitor do Bolsonaro.
Para quem não sabe de nada do que eu estou falando, e nem tomou nenhum spoiler na cola nas redes sociais, vou tentar explicar de forma bem simples, entregando o mínimo possível da história.
O documentário mostra a fundação do PT, os horrores da ditadura militar, a chegada do partido ao poder e o endeuzamento de um sujeito que vocês já devem estar de saco cheio de ouvir falar: Lula. Quando os créditos sobem, você começa a desconstruir várias acusações prontas, embaladinhas que te entregam nas redes sociais.
Eu, por exemplo, reforcei várias teorias que eu já tinha, formuladas na minha cabeça.
1) Lula foi o maior líder populista da história. Mas está preso, e nada pode fazer pelo Brasil.
2) Seu processo foi julgado na velocidade cinco da dança do créu, para que ele não pudesse concorrer. Mas ele foi julgado, e se não era culpado pelos crimes que o Juiz/Ministro o acusou, é culpado de um crime não previsto no código penal: se aliou aos partidos mais corruptos do Brasil e deixou que a maior rede de corrupção do mundo se instalasse no governo. Se ele não se beneficiou disso, permitiu que acontecesse.
3) Lula e o PT, mesmo que tenham sido pregados numa cruz pelos seus próprios aliados, tal qual Judas fez com Jesus, não é santo, muito menos Deus. E pelo o que vimos nas últimas eleições serão necessários muito mais que três dias para que ele volte a vida. Três décadas? Três anos? Não sei, só o tempo dirá.
4) Se alguém souber o que a Dilma fez, além de ser mulher, dura na negociação e uma péssima líder da economia, que me diga. Porque eu tô até agora sem entender.
5) O PT errou e continua errado ao não assumir seus próprios erros. Se continuar assim, não sobrará ninguém neste partido capaz de virar presidente. A figura do Lula sufoca qualquer outra que tenta surgir e alianças com outros partidos de esquerda parece ser um absurdo para os pavões da esquerda. Sempre com o peito estufado e a pluma levantada, dificilmente o partido vai abrir mão de lançar candidatos cabeça de chapa.
6) Por fim, Bolsonaro é o Lula da direita. Gostem vocês ou não. Ele tem apelo, tem público, faz o discurso que as pessoas querem ouvir. Igual o Lula fez. Igualzinho. Lula e Bolsonaro são a mesma moeda, mas de lados diferentes. A diferença é que Lula demorou para chegar ao poder, Bolsonaro, ajudado pelas redes e subestimado pela mídia, chegou bem mais rápido.
Enfim, fora as minhas considerações parciais e que todo mundo pode contestar e pensar o contrário, de uma coisa todo mundo tem que concordar: a melhor forma de argumentar em qualquer discussão é saber sobre o que o outro está falando. Esse é o princípio de qualquer argumentação. Neste contexto, assistir ao documentário “Democracia em Vertigem” é fundamental para todo e qualquer cidadão brasileiro que quiser discutir política publicamente. Se é, realmente um recorte esquerdista da realidade, que os direitistas assistam mesmo assim, pelo menos para ouvir o outro lado. Afinal, isso é o fundamental em uma democracia: ideias distintas coexistindo.
Por fim, deixo aqui minha opinião: Bolsonaro não deve cair, assim como Dilma não deveria ter caído. Presidente eleito termina o mandato e fim de papo. Quem defendeu Dilma e quer Bolsonaro fora não está sendo coerente. E só para finalizar, enquanto a gente tá aqui discutindo o que está certo ou errado em Brasília, Dilma está pedalando na beira da Ipiranga acompanhada de seus seguranças e guarnecida com seus assessores. Se isso é estar na pior…