Pescadores de Itapuã e Emater/RS iniciam conversa sobre a viabilidade da criação de peixes nativos no Guaíba — projeto pode se tornar opção de renda para os pescadores artesanais da região
Buscando alternativas sustentáveis para a sua profissão, um grupo de aproximadamente quinze produtores e produtoras, todos pescadores profissionais artesanais, recebeu na semana passada em Itapuã a visita do engenheiro agrônomo Gladimir Ramos de Souza, chefe do Escritório da Emater/RS – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Ascar) de Viamão.
A pauta do encontro foi a viabilidade de se desenvolver um projeto que permita a criação de peixes nativos na região de Itapuã, localizada entre o Lago Guaíba e a Laguna dos Patos, que, apenas na extensão de sua costa, abrange mais de cem quilômetros de orla, além de abrigar áreas de conservação ambiental com reconhecido potencial ecológico, como o Parque Estadual de Itapuã.
Ao longo de aproximadamente duas horas de conversa, os pescadores aproveitaram para apresentar os seus questionamentos em relação à viabilidade de um projeto dessa natureza, mas demonstraram interesse em tentar levar a ideia adiante. A principal preocupação dos profissionais gira em torno dos aspectos legais, como, por exemplo, a possibilidade de haver uma hibridação entre as atividades de produção de peixes e de pesca artesanal, sem que haja desacordo com a legislação que rege a sua profissão.
Mas questões técnicas também foram colocadas.
— Será que teríamos locais com a profundidade suficiente? — perguntou o pescador Airton Correa, o mais jovem do grupo.
— Nossas águas são agitadas, como manter as gaiolas de peixes nessas condições? Teríamos locais abrigados dos vendavais para colocar os tanques? Como funciona a manutenção dos equipamentos? — foram algumas das dúvidas levantadas pelos trabalhadores.
Reunião pôs lado a lado pescadores e a Emater/Ascar
Raso por natureza
Vale lembrar que o nível do Guaíba é considerado raso em grande parte da sua margem, e, devido ao largo espraiamento, o lago se torna suscetível às tempestades, com ventos que sopram predominantemente dos quadrantes leste e sul.
O financiamento para o projeto também foi trazido à tona durante a conversa. Um dos mais experientes de uma família de pescadores da região, Sérgio Rosa, 56 anos, fez questão de lembrar que a situação financeira dos produtores não lhes permitiria arcar com possíveis investimentos, tornando necessária a implementação de políticas públicas que possam gerar incentivos do governo para que a ideia se torne realidade.
Entre os presentes, além dos pescadores artesanais e do convidado Gladimir Ramos de Souza, representante da Emater/RS, também estavam no encontro o diretor do jornal comunitário itapuense A Voz da Comunidade, David Lemos, e o presidente da Associação Comunitária dos Moradores da Vila de Itapuã – Ascomovita, Luiz Padilha, que abriu as portas da Associação para receber a reunião.
Esperança de ver alternativa crescer
Apesar das dificuldades enfrentadas nos últimos anos, sobretudo pela proibição da pesca do bagre, que há tempos representa a principal fonte de renda, especificamente, para os pescadores desta região, os profissionais se mostraram esperançosos quanto a desenvolver uma atividade alternativa que possa, ao mesmo tempo, incrementar seus rendimentos e contribuir com a conservação ambiental.
Ao final do debate, o engenheiro agrônomo Gladimir considerou a reunião positiva.
– Foi uma reunião produtiva. Não havia tanta gente, mas deu para perceber que aqueles que aqui estavam são pescadores de fato, pessoas que realmente sobrevivem da pesca.
O chefe do Escritório da Emater/RS – Ascar de Viamão, sugeriu, inclusive, que, já para os próximos encontros, possam estar presentes especialistas na área da piscicultura, como, por exemplo, a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária – Fepagro.
–Tudo é possível, basta a gente querer – enfatizou a pescadora Marlene Rocha.
Outro pescador – Jorge Paixão, que convocou os colegas de profissão para o encontro e colocou-se à disposição para dar carona àqueles que quisessem se resguardar da baixa temperatura que fazia na noite daquela quinta-feira, também mostrou otimismo:
– Não acredito em nada que seja imposto, de cima para baixo. Toda a idéia deve partir da necessidade dos pescadores. Com humildade e disposição a gente consegue melhorar.
Gaiolas que seriam usadas no projeto parecem com as da imagem acima
A piscicultura no Brasil
Há seis anos, uma pesquisa da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) apontou o jundiá como um dos peixes nativos ideais para ser criado na região sul do Brasil.
Mais recentemente, uma matéria de 26 de novembro de 2016, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), traz dados positivos sobre a piscicultura no Brasil e afirma o crescimento do mercado de peixes nativos.
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