É tudo com a gente; O distanciamento controlado fake

RS-040 no domingo | Imagem: Cristiano Abreu

Sinto-me um crítico praticamente solitário na mídia gaúcha sobre o ‘experimento descontrolado’, que é como chamo o Distanciamento Controlado do Governo do RS, que reclassificou a Região Porto Alegre para alto risco de contágio da COVID-19. Sem torcida ou secação: a bandeira vermelha é só para assustar, é fake. Estamos por conta. Ou eu faço, e você faz, ou Viamão seguirá contando (ou subnotificando) infectados e sepultando pessoas com velório restrito e em caixão fechado.

Antes, um pouco de contexto, a ‘ideologia dos números’. No último boletim epidemiológico, Viamão registra 185 casos, com 12 mortes e 527 testes, o que aplicando sobre os 255 mil habitantes representam potencialmente 1.665 infectados. Junho, o ‘pior mês da COVID-19’, já apresenta um crescimento de 223% nos casos.

A taxa de ocupação de leitos na Região Porto Alegre é de 74.8 e não chegamos à semana 27, a primeira de julho, e a pior conforme infectologistas, porque superlota UTIs com doenças do inverno.

Como já tratei em uma série de artigos, minha crítica não é relativa ao fechamento de atividades, e sim à forma como foi feita a primeira onda restritiva, pouco cumprida, seguida de uma abertura incontrolável em momento de ascendência da curva de contágio – descumprindo recomendação básica da Organização Mundial de Saúde (OMS). Combinemos: só fechamos de verdade por duas semanas em março, quando duas mãos bastavam para contar casos confirmados em Viamão. 

No geral, usamos um ‘modelo sueco’, de transferir a responsabilidade para as pessoas, com uma cultura brasileira de desobediência às regras – pilhada por um ‘napoleão de hospício’ que ocupa a Presidência da República e não tem noção de que o peso de suas palavras mata. Vale lembrar que nem na Suécia funcionou, já que em sua vizinhança é o ‘país infectado’.

É inviável o governador Eduardo Leite repassar às prefeituras a fiscalização dos protocolos, um dia mais brandos, noutro mais restritivos e, num terceiro, com uns poucos confusos respeitando. 

Viamão não tem fiscais suficientes para cobrir 1.494 quilômetros quadrados de território e sem fronteiras fechadas com o ‘epicentro’ Porto Alegre, ou o ‘eixo da morte na RS-118’. Alguém acredita em fiscais entrando em lojas e medindo a área e o número de clientes? No máximo, e é o mais fácil de exigir, teremos ônibus só com pessoas sentadas, mas aglomerações nas paradas, esperando o próximo.

Para piorar, com a bandeira vermelha, as prefeituras, em muitos municípios o equivalente à ‘maior empresa’, têm que reduzir a um terço os funcionários na ativa. 

– A bandeira vermelha é de “pare!”. Pare de acreditar que a pandemia não existe. Sem espírito de comunidade vamos acabar em lockdown, em bandeira preta – apelou o prefeito da vizinha Gravataí, Marco Alba, em live.

– Não colaborar é enganar a si mesmo, e não ao prefeito, governador ou presidente. Precisamos de união para sair da bandeira vermelha – apelou o prefeito de Cachoeirinha, Miki Breier, também do eixo da RS-118, igualmente em live.

E sabem o que Russinho falou 59 segundos de vídeo gravado para anunciar que não recorreria da decisão do governador? Usou 55 segundos para lamentar as "regras do jogo" e deixar claro o quanto lamenta por ter que fechar o comércio novamente. (assista na íntegra ao fim do texto).

"A notícia não é agradável, mas é o que o momento nos oferece. Por necessidade, temos que obedecer as regras do jogo, o governador determinou para Viamão a bandeira vermelha… …sabemos da necessidade do nosso comércio de manter as portas abertas. Já sofremos há poucos dias (SIC) atrás quase 60 dias de parada total aí, mas temos certeza, se cada um (SIC) fazer a sua parte, num período bem breve, num curto espaço de tempo, vamos retomar todas as nossas atividades."

Gastou apenas 4 segundos para falar da preservação da vida:

"… Porque nesse momento, a vida está em primeiro lugar…"

Concluiu com mensagem de esperança para os comerciantes:

"…Quero concluir pra vocês, dizer que logo logo, quem sabe no próximo sábado, já passaremos novamente para a bandeira e logo logo voltaremos às atividades normais."

As diferenças entre Viamão, Cachoeirinha e Gravataí vão além dos discursos de seus gestores e refletem nos números: Cachoeirinha e Gravataí, juntas têm 500 km², e somam 11 óbitos. As duas vizinhas abrigam 130 mil e 280 mil habitantes, respectivamente. Viamão sozinha tem 12 mortes.

E tem ainda Nelson Marchezan, que tenta reunião com Russinho para discutir a lotação das UTIs da Capital com moradores de Viamão, mas Russinho só manda dizer que "não tem espaço na agenda".

Em artigo anterior parafraseei Millôr: “Uma característica curiosa do covidiota se observa em restaurantes. O covidiota está sempre nas outras mesas”.

Ao fim, a covidiotia de muitos, que não entenderam a pior crise da história moderna da humanidade, além do efeito nos ‘CPFs’, tem seu efeito mais danoso nos CNPJs de pequenos empreendedores que, mais uma vez, vão perder o fôlego a cada novo boleto que chega na proporção inversa ao faturamento em fins de mês perpétuos.

Uso dois exemplos-símbolo: na indústria, a GM segue a 75% com o ‘alaranjamento da bandeira’ pelo Governo do Estado; no comércio, a Havan funcionará praticamente da mesma maneira, já que além de ocupar uma grande área, espertamente tem alvará de hipermercado e basta botar um saco de feijão na prateleira para se enquadrar como serviço essencial.

É uma culpa que carregam todos que podem, e não cumprem o distanciamento social. Minha análise vale não só para o eixo da RS-118, mas para todo Brasil dos mais de um milhão de casos e 50 mil mortes.

 

Colaborou: Cristiano Abreu

 

EM VÍDEO

Na noite de segunda, Russinho gravou um vídeo sobre as mudanças causadas pela bandeira vermelha. As imagens são da Prefeitura de Viamão, e a edição é de Guilherme Klamt.

Confira:

 

 

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Compartilhe esta notícia:

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Receba nossa News

Publicidade

Facebook