A infância por si só traz uma série de dificuldades, já que é nessa época que passamos pela transição entre a impossibilidade de qualquer forma de autonomia e a adolescência.
Determinar qual o nível de atividade normal de uma criança é um assunto polêmico. Historicamente existe uma expectativa em relação ao comportamento infantil em que se associa um certo grau de agitação, desobediência e bagunça a indicativos de saúde e animação infantil. Entretanto nem sempre é assim.
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um dos transtornos mais conhecidos e diagnosticados entre os profissionais da área da educação e saúde. O TDAH tem sido visto como responsável por grande parte das questões infantis e dos problemas de aprendizagem. As crianças portadoras deste transtorno ultrapassam todos os limites, parecem ignorar as regras de convívio social, muitas vezes sendo consideradas de má índole.
O Transtorno de Déficit de Atenção é caracterizado por uma visível dificuldade de atenção e concentração (que se pode estar presente desde os primeiros anos de vida do paciente); Dificuldade de organizar-se; Esquecimento de informações, compromissos, datas, tarefas, etc.; Dificuldades para seguir regras, normas e instruções que lhe são dadas; Aversão à tarefas que requerem muita concentração e atenção, como lições de casa e tarefas escolares. Cerca de metade dos casos pode apresentar hiperatividade, como movimento incessante de mãos e pés, dificuldade de permanecer sentado ou dentro da sala de aula, fala excessiva, dificuldade em realizar qualquer tarefa de maneira quieta e recatada, impulsividade caracterizada pela incapacidade de esperar a sua vez, interrompendo ou cortando outras pessoas durante uma conversa e também pelo impulso de falar as respostas antes que as perguntas sejam terminadas.
Uma vez que os sintomas característicos deste transtorno podem estar relacionados a uma série enorme de problemas e situações neurológicos, psiquiátricos, sociais, ou por questões subjetivas do desenvolvimento psíquico, diagnosticar que uma criança é portadora ou não deste transtorno não fácil e deve ser realizada com muito cuidado.
Normalmente o diagnóstico começa pela eliminação outras patologias ou problemas sócio/ambientais, possivelmente causadoras dos sintomas. Além disso, os sintomas devem, obrigatoriamente, trazer algum tipo de dificuldade na realização de tarefas ou devem causar algum tipo de impedimento para a realização de tarefas. Devem estar presentes na vida da pessoa há muito tempo, normalmente desde a infância, antes mesmo dos sete anos.
Para a psicanálise não é possível pensar na atenção de forma autônoma. Pelo contrário, é preciso pensa-la em uma articulação onde o inconsciente direciona os investimentos no mundo externo. Deve-se ter cuidado com uma tendência atual a considerar todos os problemas da infância como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Nem sempre o que uma criança agitada precisa é de medicação.
A medicação quando necessária traz benefícios, porém ela não substitui a constituição psíquica. Há uma série de crianças que apresentam semelhanças e que não são portadores deste transtorno, mas que por uma série de razões, estão colocadas em situações onde os limites estão dificultados e seus sintomas representam uma problemática subjetiva e própria de sua história.
Na dúvida deve-se procurar ajuda profissional que poderá diferenciar as situações e indicar qual o melhor encaminhamento e forma de tratamento. O tratamento psicológico mostra-se eficiente tanto nas situações em que o transtorno não está configurado (trabalhando não apenas com a criança, mas auxiliando os pais na conduta mais apropriada para com o filho), quanto auxiliando o tratamento medicamentoso propiciando que o paciente possa dar novas significações a seus sintomas e lidar com suas limitações.