Valdir Bonatto (PSDB) é um estrategista. Sem alternativa, busca na Justiça a liberação para concorrer a prefeito nesta eleição. E certo de que não escaparia das repercussões negativas projetadas por adversários, principalmente nas redes sociais, trata de aproveitar o momento para revidar os ataques.
Nesta quinta-feira (10), o tucano fez do limão uma limonada. A coletiva concedida por ele durante uma hora e meia nesta manhã foi um bem conduzido "posicionamento de marca".
Bonatto e seus assessores sabiam de que não há como movimentar-se na esfera judicial sem serem notados. E, conforme sua defesa, as primeiras duas negativas jurídicas para anular as votações da Câmara de Vereadores que reprovaram contas de sua gestão enquanto prefeito "estavam nos cálculos". Sem razão para discordar, enxergo a coletiva (agendada há mais de uma semana) como canal de comunicação gratuita que os próprios rivais ajudaram a criar.
Valdir Bonatto surfou na onda. Usou o espaço para justificar os motivos das negativas da Justiça até aqui, apresentou documentos bateu forte nos adversários, sem poupar o prefeito afastado André Pacheco (agora no PSD), o qual tenta descolar a imagem de criador versus criatura. Ainda fez um balanço de sua gestão (2013-2016).
É um capítulo tão importante da política local que ofusca até as convenções partidárias em curso. Ou seja, nem mesmo temos todos os candidatos definidos, mas o ringue, quis dizer, o palanque, já recebe um de seus prefeituráveis mais fortes. Hoje e nos próximos dias a mídia local e as redes sociais vão estampar nas manchetes que segue candidato.
– Não tenho dúvidas de que poderei ser candidato e meus acusadores já estão respondendo ao Judiciário – avisa.
O tucano deu uma 'invertida" nos críticos e ainda promoveu seu nome. Confira os principais pontos da coletiva:
Inelegibilidade
Segundo Bonatto, a reprovação de suas contas pela Câmara de Vereadores é parte do processo de disputa política. Mostrando documentos, afirma que o Legislativo se valeu equivocadamente de apontamentos feitos pelo Ministério Público de Contas (MPC). É justamente este o argumento apresentado à Justiça para anulação do processo que o torna inelegível por oito anos.
– Reprovaram minhas contas e inventaram a falácia dos R$ 17 milhões. Tenho minhas contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Estão aqui as certidões. Os tais apontamentos do MPC são justamente o que diz o nome: apontamentos. Foram respondidos ao seu tempo, analisados por auditores do TCE, e as respostas e medidas tomadas foram aprovadas – resume o ex-prefeito.
– A Câmara já foi notificada pela Justiça e deve se manifestar – completa.
Gestão
Aumento da receita em 25% e "alto índice de aprovação" (60%) foram os destaques feitos por Bonatto para definir sua gestão como prefeito. Teriam sido, segundo ele, estas as razões, aliadas a um planejamento de desenvolvimento econômico, para a continuidade do projeto político que acabou elegendo André Pacheco.
Racha com André Pacheco
O desfecho de Bonatto e Pacheco foi abordado. Para o tucano, houve erro interno de avaliação para a escolha de seu sucessor e "diferenças de interesses" causaram a ruptura. O que veio após são disputas visando o poder.
– Em janeiro de 2019, a ruptura se tornou pública e, a partir daí, começaram os ataques do grupo coordenado pelo prefeito André Pacheco, para atingir a minha imagem e me tirar do processo eleitoral do ano seguinte – disparou.
– Na sequência, utilizaram um testa de ferro, levaram ao Ministério Público e entregaram no meio político um dossiê repleto de mentiras. No dia 7 de fevereiro de 2020 eu respondi ponto a ponto ao MP, tudo documentado e denunciei todo o movimento à Polícia Civil, que está investigando todos os fatos, lá no DEIC, em Porto Alegre. Inclusive, o MP citou no despacho de prorrogação do afastamento do André Pacheco que está investigando a obstrução dos meus processos.
Notícias falsas
Bonatto afirma que André Pacheco é responsável "por uma série de insinuações" em depoimentos em CPIs instaladas na Câmara Municipal, "porém não apresentou provas".
– Eram mentiras, como por exemplo sobre o IPTU das minhas empresas. No dia 21 de outubro de 2019, levei o fato ao conhecimento do MP, que instaurou um Inquérito Civil. Em dezembro de 2019, esse grupo comandado pelo prefeito André Pacheco fez uma série de movimentos para simular fiscalizações e denúncias, montaram verdadeiros delírios fantasiosos sobre o meu patrimônio – explicou.
O tucano também lembrou a repercussão dos fatos nas redes sociais. E acusa adversários (a coluna não reproduzirá nomes) por ataques recebidos. Segundo Bonatto, foram criados diversos perfis fakes e utilizados números anônimos em grupos de WhatsApp.
– Após alguns meses de investigação, a Polícia Civil solicitou e a Justiça autorizou que as operadoras e o Facebook revelassem a origem desses perfis fakes e números de telefones – complementa o ex-prefeito, que apresentou detalhes de um Termo Circunstanciado, que já foi finalizado e enviado ao Judiciário.
Candidatura
Numa espécie de autocrítica ou mea-culpa, Bonatto revelou que a Operação Capital (que afastou André Pacheco da Administração) é o principal motivo de seu retorno ao cenário eleitoral. Ele entende que a população de Viamão vai para as urnas "duplamente decepcionada" "pelos fatos políticos acontecidos e pela fraca atuação da Administração do município no combate à pandemia".
– O cenário é muito ruim para a classe política – comenta.
Falando como pré-candidato, afirmou que pretende implantar um rigoroso sistema de controladoria do dinheiro público, caso eleito, e defende que a próxima gestão deve ter "um olhar especial" sobre o cuidado com as pessoas.
– A degradação financeira no pós-pandemia será gritante. Os mais necessitados cada vez mais dependerão do poder público. Ao mesmo tempo, o setor que gera emprego e renda precisará de incentivos para fazer a economia local reaquecer. Será um desafio enorme para o próximo governante. Mas estou disposto a encarar mais esta missão – finalizou.