Enfim, cem crônicas

Após escrever cem crônicas no Diário de Viamão sinto-me plena. Cheguei a conclusão que não me falta imaginação. Cada crônica que escrevi foi pensada a partir da composição de fatos reais com volumosas pitadas de ficção. Alguns temas, como todo escritor afirma, foram tirados da própria experiência de vida.Evidentemente, misturados à fatos ficcionais.Não somos tão originais assim.

Completo cem crônicas com o desejo de colocá-las num livro. Ah…minha obra literária! Simples e direta.Simplória.Mas retratando a vida, as situações e os personagens que encontramos em todos os lugares. Nas ruas, nas esquinas, nos bares, nas minhas observações.

Hoje, escrevo mais uma. Retratando a "birra infantil".Seguia numa lotação para o centro da cidade.Entra uma senhora com uma criança pequena.A menina, mais rápida, senta no primeiro banco que encontra.Naquele banquinho solitário à direita do motorista.

A senhora paga a passagem. Ao chegar na menina avisa que ela não pode sentar ali. Na verdade,poderia.Mas queria sentar em outro assento para cuidar melhor da criança. No caso de alguma freada ou imprevisto. A menina tinha pouca idade. Inicia-se um "berreiro" sentido dentro e fora do lotação.A criança esperneou,gritou e não queria de jeito nenhum sair do banco escolhido.

A senhora segredou-me que era avó da menina. E não sua mãe, como eu imaginava que era. A menina voltava da escolinha, muito aborrecida.Havia dormido pouco, na noite anterior. A senhora, depois de muito custo, convenceu a menina a sentar com ela. A gritaria foi cedendo e a avó ao final, resolveu aquela insatisfação.

Crianças são assim: lutam pelo que querem. Fazem "birras".Mas aquela menina, por certo, tem personalidade forte. Queria um banquinho só seu e uma janelinha exclusiva para avistar cenas da cidade.Ao passar por mim, na saída, disse: "tchau"e desceu com sua paciente vovó. Estas avós de hoje, cuidadas em academias de ginástica e cheias de juventude.Talvez indo para sua casa. Depois da aulinha, do contratempo no lotação e da intensa choradeira de sua netinha.

Voltei no tempo. Pensei em mim criança. Nenhuma lembrança de "birra".Mas não esqueci as vezes que andei de ônibus e de carro,com meu pai.Como a senhora e a menina da lotação. Nenhuma choradeira. A não ser desejos. Como o de ser escritora.

Tinha um caderninho que andava sempre  comigo. Nele escrevia, num português de aprendiz, anotações do que via.Como um diário. Reafirmando ao meu pai,depois de cada passeio, que no futuro, seria escritora.Dizia a ele, que o caderno era meu livro.Meu pai foi meu grande incentivador. Pensei nele também. Onde estará meu pai? Em qual dimensão viverá agora?(Ana D´Avila)

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