Na última semana repercutiu nas redes sociais a condenação do jogador de futebol Robinho por estupro, na Itália. Não pretendo discutir aqui se, na minha opinião, Robinho é inocente ou culpado. Há algo no cerne das questões de violência contra a mulher: a objetalização de nosso corpo e alma.
Recentemente assisti as duas temporadas da série brasileira “Coisa Mais Linda”. Para quem não conhece, a série é uma produção original da Netflix e tem sido vinculada com sucesso na maioria dos países do mundo. Ambientada nos anos 60, mostra justamente o universo feminino na época: a submissão ao masculino. São muitas as cenas emblemáticas e fica claro o quanto nosso papel social era resumido em toda a sua potencialidade.
Um Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) lançado hoje, em Nova York, revela que a população mundial triplicou, entre 1950 e 2010, chegando a quase 7 bilhões de pessoas. Neste total, há aproximadamente 57 milhões de homens a mais do que mulheres em todo o mundo. No Brasil, no entanto, a realidade é diferente. A população brasileira é de 203,2 milhões de habitantes, sendo 98,419 milhões de homens (48,4% do total) e 104,772 milhões de mulheres (51,6%).
Em uma entrevista a um canal de esportes, Robinho, na tentativa de se justificar, comentou: :Infelizmente existe este movimento feminista…”. Ora, entende-se então que o problema em “utilizar” uma mulher está na crítica feita e não no ato em si? Se a tal mulher não houvesse denunciado e a história não ficasse pública, seus atos seriam justificados?
Só há um consenso nos dois lados da história: a mulher em questão estava demasiado embriagada para a situação. Não podemos nos embriagar, não podemos sair a noite, não podemos utilizar um determinado tipo de roupa sem que isso de alguma forma se coloque em um risco para nós mesmas.
Ao fazer a cobertura do caso pela Rede Globo, no Fantástico, Poliana Abritta leu as palavras de Robinho, na íntegra, e rebateu: “Ainda bem que existe”. Ovacionada, nas redes sociais, por homens e mulheres, Poliana apenas traduziu o sentimento de desconforto (para dizer o mínimo) que a fala de Robinho provocou. Precisamos quebrar a lógica de que nascer ou tornar-se mulher é um risco para a própria a existência, física ou psíquica.
Há alguns dias, ouvi de um pai que ele havia matriculado a filha de 7 anos no ballet no Judô: “Ballet porque ela gosta e judô porque ela precisa saber se defender.” Desde cedo aprendemos que não estamos seguras em nossas próprias vidas, em nossos próprios corpos. Nossa fragilidade física nos coloca em risco.
Defender a igualdade de gênero é defender uma sociedade mais justa e menos violenta. Defender a igualdade de gênero é defender o direito de ir, vir e estar independente da combinação genética de cromossomos. A civilidade exige respeito.
Enquanto existirem “Robinhos”, precisará existir o feminismo!