Coluna do Gustavo | As críticas, os julgamentos, as emoções

Há alguns anos, eu estava trancado no trânsito e vi uma mulher com uma criança no colo e outra de mão dada tentando atravessar a avenida fora da faixa de segurança. Apressada, ela foi cruzar a frente do caminhão parado ao meu lado. Pelo espelho retrovisor, vi uma motocicleta vindo pelo corredor formado entre os carros. Buzinei para chamar atenção, mas a senhora não percebeu e atravessou o caminho do motoqueiro que travou as rodas e por uma fração de segundo um acidente sério deixou de ocorrer.

Já na segurança da calçada, percebi que ela estava sorrindo. Lembro de ter ficado muito irritado com sua reação. Julguei seu comportamento como irresponsável. Tive certeza absoluta do quanto as crianças eram azaradas por serem cuidadas por alguém que agia daquela forma. Como eu disse, isso aconteceu há anos. Hoje, percebo como é comum, em momentos nos quais nossas emoções são muito fortes, as confundirmos. O sorriso dela era de nervosismo, de medo, de alívio. Tudo misturado. Não estava achando graça, óbvio.

Misturamos uma emoção com outra com mais frequência do que gostaríamos, confundindo sentimentos ao não encontrarmos a forma certa de agir. Ansiosos confundem sua ânsia com fome até. Já eu, ao não conseguir me expressar direito, confundo minha frustração com raiva e preciso ficar me lembrando disso para me acalmar. O maior problema acontece quando, da mesma forma que julguei a senhora ao atravessar a rua, baseado em um instante de sua vida, sofremos críticas por nossas ações em momentos de confusão emocional.

E é impossível viver uma vida sem ser criticado. A partir do momento em que fazemos qualquer coisa, haverá críticas. E se alguém deixar de fazer algo por medo delas, será criticado por isso. Quando os comentários são feitos de forma a expor onde acertamos e onde podemos melhorar, conseguimos aceitá-las e crescemos e evoluímos. Mas duras críticas, baseadas em julgamentos corretos ou equivocados, são agressões fortes para almas sensíveis e mil elogios serão obscurecidos por apenas uma avaliação mal-intencionada.

Lembro do quão confuso me senti quando um antigo chefe me elogiava pela disposição de trabalhar bastante enquanto minha namorada na época reclamava da mesma coisa. Situações nas quais somos avaliados de formas diferentes pelas mesmas atitudes me lembram do comentário que um amigo meu fez sobre se importar com o que os outros pensam. Ele dizia que se perguntássemos a alguns conhecidos suas opiniões sobre ele, alguns diriam que era uma excelente pessoa, já outros, a pior. E nenhum estaria mentindo, porque cada um cria o seu conceito dos outros com base no seu julgamento.

Críticas ruins são como relacionamentos, sociedades e amizades ruins, quando acabam, não devemos levar conosco a mistura de sentimentos do término, nem esquecer que um julgamento negativo, as vezes, consegue nos abalar mais do que um positivo consegue nos agradar. Devemos filtrar o desagradável e carregar apenas a parte boa, sabendo que cada pessoa avalia as outras conforme a sua verdade, e mesmo que não esteja mentindo, são grandes as chances de estar equivocada. Por isso, não podemos permitir que o equívoco dos outros confunda as nossas emoções.

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