Ele computava quarenta anos de praia e de surf. Analisava cada onda antes de entrar no mar. A praia de extensão continental dava a dimensão exata do que o pessoal do surf encontra no litoral do Sul do Brasil. Estava no Rio Grande do Sul. E aqui o mar é bastante violento.
O dia estava pleno. Muito sol.Marcelo pegou sua prancha e foi rumando para a praia. Falou:”Hoje não estou entendendo a corrente das ondas”. A companheira o ouviu com serenidade. “Ele sabe o que faz”, pensou ela.
E o acompanhou em seu debutar oceânico. Era a primeira vez que ela tinha um crush surfista.Fora casada, mas o marido era artista plástico. Facil de entender.Agora o mar para quem não é surfista é problemático.Até assustador, nos dias de ventania e ciclone.
Ela pegou sua cadeira de praia e se acomodou. Ele foi entrando mar adentro. Até aí tudo bem. Ela pensou que ele ficaria mais perto da praia, mas o viu indo, indo bem longe e fundo. Começou a ficar nervosa. Lembrou da frase que ele disse a caminho do surf.”A correnteza”.Agora, o perdeu de vista.
Passaram-se alguns minutos e ele não voltava. O coração dela começou a bater forte e em desespero. Olhava para o fundo do mar e não o via. Deveria ter ficado com a pressão bem alta nesta agonia.
Quase resolvendo sair da praia e pedir socorro ela entrou em transe nervoso. De repente avistou o bico da prancha verde chegando. Era ele. Bem lindo como sempre. Ela deu um suspiro e o esperou.
Voltou são e salvo e feliz pelo mergulho . Ela achou a espera muito aflita. Em casa, trocaram informações sobre o surf. E sem desespero, curtiram o resto do dia ensolarado. Com muita música do Bob Marley, evidentemente.E ele comentou que não a perdeu de vista mesmo dentro do mar. “Te via”, sentenciou. (Ana D´Avila)