A China é um lugar muito diferente. Quando comuniquei aos amigos que viria passar algum tempo em Pequim, todos tiveram a mesma reação: “nossa, por que tão longe?”. Meus pais, inclusive, fizeram parecer que a distância é um intensificador da saudade. Contudo, mesmo tão longe da família e dos amigos, estou me adaptando à vida no Oriente.
É claro que a comida não é a mesma (e que saudade de um arroz com feijão!!), nem o clima. Aqui não tem a fartura de carne que temos no Brasil, já arroz tem pra todo lado! Uma das maiores diferenças na cozinha chinesa é a utilização de verduras e legumes como o prato principal, não apenas como salada. O conceito de doce também é bem diferente. Um dia desses estava almoçando com alguns amigos chineses e, enquanto para mim estava quase tudo muito apimentado, para eles estava doce (!!). Ao invés de utilizar sal, a carne é temperada com açúcar e canela.
Massa é só no estilo lámen. Aquela com a sopa. A que tem molho de tomate com ovo é a preferida da galera (e dos estrangeiros também, afinal, ela não tem pimenta!). Frutas são boas e baratas, provavelmente pra compensar a quantidade de óleo utilizada na culinária local. Aqui é quase tudo frito (até a alface!!!!). Mas para limpar todo o óleo ingerido e hidratar o corpo, água quente! Nada gelado! A medicina chinesa acredita que manter a temperatura interna do corpo (aproximadamente 37ºC) é saudável. Bebidas geladas já são difíceis de encontrar. Gelo, então….
Outro ponto que notei uma enorme diferença é a poluição. Aqui tem dias com o índice de qualidade do ar acima dos 200, o que significa que está muito ruim. A tendência é que no inverno piore, pois ligam os sistemas de aquecimento das casas e prédios (a temperatura em Pequim fica próxima à -15ºC), e é uma estação muito seca. Sentar no gramado de um parque aqui é proibido. Quando questionei minha amiga chinesa o motivo disso, ela simplesmente respondeu que “isso não é grama, é dinheiro”, pois o governo investe muito em parques e natureza para ajudar a combater a poluição. No final de 2015, a China estabeleceu a meta de reduzir em 40% a poluição do país até 2020.
Uma das perguntas mais frequentes é “e tem tanta gente assim?”. Então…sim, é MUITA gente! O país possui aproximadamente 1 bilhão e 300 milhões de habitantes. Só aqui em Pequim são 20 milhões! E tem vezes que é tudo uma bagunça, mas até a bagunça aqui é organizada e funciona. Nos fins de semana todos os lugares ficam ainda mais cheios, porque muitas pessoas de outras cidades vêm visitar os pontos turísticos da capital. Falando neles, são muitos e grandes. Pequim em si é enorme, e como importante centro desde a China Antiga, possui muita história para ser contada.
Fila de uma das linhas do metrô de Pequim, no fim do dia. Foto: Reprodução.
As grandes atrações são os Palácios. O maior deles é conhecido como Cidade Proibida, onde morava o imperador (fica bem no centro de Pequim). Outro muito visitado é o Palácio de Verão, no qual o imperador passava a época do verão (fica mais afastado, numa área próxima à lagos). Em torno dos palácios, existem até hoje as casas antigas do povo, também conhecidas como Hutongs. São ruas – algumas estreitas, outras largas – com casas e muros de pedra, no estilo oriental.
Templos são outros lugares que não faltam por aqui. Um dos mais conhecidos deles é o do Céu, em Pequim. A maioria do povo chinês segue a religião budista, e muitos desses templos são lugares turísticos. Em Chengde, cidade vizinha a Pequim, tive a oportunidade de visitar outros dois grandes Templos, e ao contrário das atrações turísticas em Pequim, pude ver os monges e as pessoas rezando para os grandes Budas.
A "Cidade Proibida". Foto: Reprodução.
O jardim do "Palácio de Verão". Foto: Reprodução.
Além de todos esses lugares, é claro que temos a Muralha da China. Uma das sete maravilhas do mundo. É difícil imaginar que algo tão grande começou a ser construído numa época tão remota (cerca de 700 a.C.), com o intuito de proteger o território de invasões dos povos vizinhos. A vista lá de cima é indescritível. A muralha é muito extensa – possui pouco mais de 21 mil km de extensão – e está dividida em diferentes partes para visitação. Nas duas vezes em que estive em Mutianyu (uma das partes da Muralha), senti muitas coisas diferentes. Cansaço, pela subida. Sede, pelo calor. Felicidade, de poder estar ali. Tristeza, na hora de ir embora. E o mais intenso de todos os sentimentos, foi o choque de pensar “eu cheguei aqui!”.
Vista de uma das partes mais altas da Muralha da China. Foto: Reprodução.
A linha vermelha representa a extensão da Grande Muralha pelo território chinês. Foto: Reprodução.
Eu acredito que a construção da Muralha pode ser comparada com a população do país. O começo foi difícil, as pedras eram pesadas e demorou a tomar forma, assim como a população chinesa sofreu com períodos muitos difíceis de crise interna no país. Mas aos poucos tudo foi se ajeitando. Hoje, a visão pode não ser sempre deslumbrante, mas permite um longo alcance e a certeza de que, assim como a muralha é grande, o futuro do país também promete ser.
Quando comecei a estudar o mandarim, em meados de 2016, não pensava em vir para cá. Seria apenas um passatempo. A vida, desde então, tem me dado muitos presentes. A China é um deles. Aqui não tem comida da mãe, não tem o chimarrão com o pai, não tem gelo, não tem sobremesa…mas tem a promessa de um futuro cheio de realizações.
Em pouco tempo eu aprendi a lidar com as diferenças, inclusive a não mais estranhá-las. Reclamo e descrevo o lugar como se morasse aqui desde sempre. Eu estou do outro lado mundo, mas me sinto em casa.
Caroline Silveira, estudante de Jornalismo na UFRGS. Está passando uma temporada estudando na Universidade de Comunicação da China, em Pequim. Foto: Reprodução.