O vereador Guguzinho Streit (PTB) não é mais o relator da CPI da Organização Criminosa. O comunicado foi feito pelo vereador na semana passada, na tribuna, e os motivos foram esclarecidos para a coluna em um longo telefonema com o vereador no último final de semana. Perseguição política foi o maior motivo apontado para a desistência. Vamos tentar entender:
Guguzinho é vereador de segundo mandato pelo PTB, tendo sido o mais votado da legenda nos dois anos deixando para trás caciques como Eraldo Roggia, também vereador e tantas vezes ex-presidente da CMV. Não se engane com o sobrenome, Eraldo é marido da Andreia Gutierres, presidente do PTB em Viamão e assessora do deputado federal Ronaldo Santini. Andreia é filha do Chico Gutierres, nome clássico do partido e sobrinha de tantos Gutierres ex-vereadores que somente a biografia da família, que um dia ainda vou escrever, vai contar. Mas não para por aí, Andreia é irmã de André Gutierres, presidente dos Progressistas e da Câmara de Vereadores. Os Gutierres/Roggia comandam dois partidos e a Câmara de Vereadores. Bem, é puxando toda a árvore genealógica que chegamos a questão: O PTB Estadual está completamente rachado. De um lado os defensores e apoiadores do ex-prefeito de Canoas e atual presidente da legenda, Busato, onde somam-se os Gutierres, e do outro a galera que defende uma renovação do partido, o pessoal da ala do deputado Maurício Dziedricki, lado do racha que o vereador Guguzinho se encontra.
– O Maurício foi a primeira pessoa que eu votei, sou admirador do trabalho dele enquanto político e não abro mão do meu apoio a ele – disse Guguzinho.
Segundo a versão do vereador, a crise dos trabalhistas brasileiros, que era para ser interna, acabou se tornando pública, e mais que isso, afetando o dia a dia do legislativo:
- Tudo para mim é mais difícil. O café é o mais torrado, e meus CC foram reduzidos de 5 para 2 – diz.
Guguzinho lembrou também que no início do ano, enquanto participava de uma capacitação na ONU, em Nova York, teve o cargo pedido pelo partido para repassar para um dos suplentes. Acontece que além de usar verba própria, o vereador ficou menos que o tempo exigido pelo Regimento Interno para ser considerado o cargo vago. Ou seja: tudo dentro da lei.
Existem basicamente dois tipos de vereadores na Câmara: os que usam o microfone todas as sessões para emitir toda e qualquer opinião sobre qualquer assunto (que ele entenda ou não, know how nunca foi o forte dos nossos edis) e a bancada muda, como os próprios vereadores já chamaram os colegas que não falam nunca, seja por inexperiência no cargo ou por já ter falado tanto em outras tantas legislaturas que perderam a vontade da vereança.
O vereador Guguzinho é uma excessão a essa regra. Embora sejam poucas as vezes que o vereador usa o púlpito (talvez menos de uma mão cheia a cada ano) todas as manifestações são embasadas no regimento interno e na lei. A relatoria sair das mãos de Guguzinho é uma perda grande para a CPI da organização criminosa.
O OUTRO LADO
Procuramos a Mesa Diretora da Câmara Municipal de Viamão para comentar as declarações feitas pelo vereador Guguzinho. Por e-mail, recebemos a seguinte nota:
A administração da Câmara não deixa as divergências internas dos partidos políticos interferirem no cotidiano dos trabalhos. Se o vereador Guguzinho tem problemas internos com o seu partido, é dentro da sua instituição partidária que deve resolver.
A Câmara, através de sua Mesa Diretora, proporciona totais condições de trabalho para as Comissões Parlamentares. Inclusive, a atual gestão da Câmara facilitou a abertura de todas as CPIs necessárias para apurar fatos que foram denunciados e requeridos. Cada CPI tem cinco vereadores, compostas conforme o Regimento da Casa Legislativa. Com a renúncia do vereador, outro parlamentar, seguindo o Regimento Interno, ocupará a vaga na Comissão, que irá se reunir para eleger o novo relator. Em relação ao número de CCs, o vereador tinha em 2018 três assessores, em 2019 passou a ter dois, que é o direito dos vereadores. Lamentamos que o vereador Guguzinho tenha declinado, mas necessariamente outro vereador irá substituí-lo e os trabalhos devem seguir normalmente.
ANDRÉ GUTIERRES
Presidente da CMV
Mesa Diretora da Câmara