Terceiro dia de governo Bolsonaro e circula pelas redes sociais um vídeo da nova ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos, a pastora evangélica Damares Alves pulando, feliz da vida, dizendo que na "nova era que se inicia no país menino veste azul e menina veste rosa". Bueno, como diria o Jack vamos por partes.
Deixa eu contar uma história: o Beni, meu filho que é o assunto principal desta coluna sobre paternidade, adora ficar na cozinha. O cômodo é o preferido do menino, que se diverte brincando com os potes e panelas enquanto cozinhamos aqui em casa. Quando estamos cozinhando alguma coisa no fogão, ele pede colo para ver as penelas e o presente de natal dele este ano quase foi uma mini-cozinha do Mickey, que só não foi comprada porque tinhamos outros programas e não íamos conseguir carregar naquele dia. De aniversário, quem sabe? O Beni me vê cozinhando e gerenciando, junto com a mamãe, as tarefas da casa desde que era um neném. Não porque sou um super marido ou menos homem que os outros pais que convivem conosco: apenas porque pessoas que dividem um teto devem dividir as tarefas inerentes a ele. Caso contrário que procuremos uma pensão ou um hotel. Serviço de quarto custa caro porque ninguém quer fazer este trabalho.
O meu filho vai ganhar os brinquedos que ele quiser, e vai se vestir como eu quiser. Ou como a mãe dele quiser, dependendo de quem colocar as roupas nele, afinal esta também é uma tarefa dois dois, assim como limpar a bunda, fazer mama, colocar para dormir… A Andressa carregou o Beni por nove meses na barriga e desde seu nascimento nos revezamos em todas as tarefas e custos que uma jovem vida demanda. Nunca pedi R$ 1 que fosse para governo nenhum para ajudar a criar meu filho, então não vai ser ministra de três dias que vai decidir o que meu filho vai vestir. Ou o que vai pensar. Ou o com o que vai brincar.
Ouvimos dos, como diz um vereador aqui da terrinha, "defensores do indefensável", que ela apenas estava usando uma metáfora para falar que a "ideologia de gênero" estava com os dias contatos. Esse papo de ideologia chega a me dar sono. Tem um ditado que diz que Deus deu um nariz para cada um justamente para que cada qual cuide do seu. Troque pela aquela palavra de duas letras que começa com cê e termina com u e teremos a analogia perfeita. Além de querer ditar comportamentos, sobre como os adultos devem se comportar em relação aos corpos, vida, trabalho e relacionamentos, agora querem dizer como o meu filho vai se vestir.
Alguém precisa avisar para a senhora ministra que atrelar uma cor de roupa a posicionamento sexual é de uma ignorância tão grande quanto jogar pessoas portadoras de hanseníase em colônias. O mundo mudou e a menina veste a cor que ela quiser, trabalha com o que ela quiser, e faz o que ela bem entender. O menino também. E infelizmente, os políticos também, por isso volta e meia ouvimos alguns absurdos vindos de todos os lados.
Com tanta mulher precisando de ajuda, tanto cara que não registra seu próprio filho e nada acontece, com tanta mãe criando sozinha uma criança, ganhando menos e trabalhando mais que muito homem, a ministra dos direitos humanos, familia e mulher resolve atacar de ministra da moda infantil.
Senhora ministra, sucesso no seu novo desafio, a área dos direitos humanos, mulheres e família (seja lá o que esse ultimo quer dizer) está precisando de trabalho árduo, sério e comprometido. Desejo-lhe sorte.
Agora, deixa que da escolha da roupa do meu filho trato eu, táoquei?