Dentro do avião, ela suava de medo de voar pela primeira vez. Estava de jaqueta de couro e longas botas pretas. Era junho em Porto Alegre e, ela se vestiu como se fosse passar um final de semana num lugar frio. Mas no Rio de Janeiro não faz frio, somente brisas. Dentro do avião tudo estava tranquilo. Mesmo assim, para relaxar, ela bebeu uma garrafinha de vinho em miniatura, gentilmente cedida pela aeromoça.
Agora, de verdade, ela começava a suar. O vinho esquentou seu corpo, seus batimentos cardíacos aumentaram. Um comissário bem apessoado jurou que havia a transportado num voo trajeto Porto Alegre/Miami. Como? Se aquele era seu primeiro voo! Por certo, ele a confundiu com outra pessoa.
Havia combinado um encontro com seu problemático namorado em terras cariocas. Ele tinha ido trabalhar numa famosa revista meses antes. Era também de Porto Alegre. No avião, a gaúcha ao avistar de cima a paisagem carioca, de mar e morros, delirou. Por causa da beleza, também do vinho e da ansiedade da primeira viagem. Resolveu tirar a jaqueta de couro preta. Mesmo assim, seus pés com as botas, latejavam de calor. Não cambaleando, mas quase, desceu a escadinha da aeronave. Estava no Rio de Janeiro, terra de Vinícius de Moraes, dos teatros e das melhores cabeças pensantes do Brasil.
Enfim, aterrissagem perfeita no Aeroporto do Galeão. Já estava um tanto alcoolizada porque não era seu hábito beber, a menos que estivesse muito nervosa. Funcionava como um calmante. À frente avistou seu namorado, quinze anos mais velho e que na ocasião trajava uma calça de listras que ela abominou. Ela era adepta do jeans, era uma hippie chique. Mas a cabeça arejada do namorado e, agora trabalhando no Rio, a enlouquecia. Abraços. Boas vindas.
De cara, foi parar na redação da Revista para conhecer o jornalismo feito numa grande metrópole. Ou simplesmente, bisbilhotar. Saber sobre o que o namorado escrevia. Ele entrou free-lancer na Revista e, depois aceito como efetivo. Era um jornalista respeitado, de bom texto e bons contatos. Mas adepto de todos os etílicos existentes na face da terra.
Foi por causa deste vício, que o namoro em terras cariocas durou pouco. Ela queria estudar, escrever e trabalhar num grande jornal. Ele escrever pouco e beber muito. No fundo e apesar de ter bebido na viagem, ela não gostava deste hábito do namorado. Durante o curtíssimo final de semana que passou no Rio de Janeiro, ela jamais o viu sóbrio.
As promessas lindas e apaixonadas ouvidas ao telefone, antes da viagem, agora se desinventaram. Agora sossobraram, como cinzas. Nada ficou de lembrança boa, apenas a vontade de rapidamente esquecê-lo, de voar de volta para Porto Alegre. Agora com mais experiência. Sem medo algum. E… bebendo somente água.