Ciclista de Viamão é o primeiro brasileiro a vencer por dois anos seguidos o torneio de 500 milhas uruguaio de ciclismo – e, em 2017, ele quer conquistar o Brasil
Em Águas Claras, os comerciantes da beira da estrada já sabem quem é ele: de tanto treinar por ali, indo e vindo até duas vezes por dia da 36 até as imediações da Ambev, Rafael da Silva Safadi, de 26 anos, tem o carinho de quem vive às margens da ERS-040.
Ciclista profissional há quase sete anos e apaixonado por bicicletas desde que se entende por gente, Rafael roda em sua bike entre 600 e 700 km por semana, de 2 a 7 horas por dia. E prefere nem sair de Viamão para isso.
– Viamão é o melhor lugar para treinar ciclismo. O terreno tem uns cochilões, subidas, planos. Tem o vento, que dá resistência. Gosto e só treino aqui – conta.
Da sua casa na 36 até a Ambev, em Águas Claras, tem 35 km – que faz em média em uma hora. Às vezes um pouquinho menos.
– Ida e volta, faço 70km. 140 quando vou duas vezes.
Parece muito? Pois não é. E Rafael prova.
Há menos de 10 dias, ele voltou do Uruguai com um caneco na mão: venceu a prova das 500 Milhas do Norte, uma das mais tradicionais e importantes do ciclismo no país. Tão importante já reuniu mais de 200 atletas – 112 só em 2017.
E Rafael é campeão pela segunda vez.
– Tem gente do Uruguai, da Argentina, da Colômbia, do Chile e muitos brasileiros também – revela.
Primeira vitória de Rafael Safadi no Uruguai, no ano passado, em foto do Diário de Notícias
Vida sobre a bike
Os últimos três anos, Rafael fez parte da equipe profissional Esmel, de Foz do Iguaçú, no Paraná.
– Lá, o ciclismo é muito mais desenvolvido – conta.
Não precisou se mudar – mas passava temporadas de 15, 20 dias longe de casa. Quanto tinha competições, até mais tempo ficava longe da família e da esposa, Carol.
– Ano passado, acabei me desligando de Foz porque os custos para tudo isso ficaram muito caros para equipe.
A saída no final de 2016 deu a ele a chance de voltar para a antiga equipe, a Beto's Bike, ligada à Associação de Ciclismo do Vale do Sinos, a Acivas. Por este time, ele se inscreveu na prova uruguaia em 2016 e levou o título.
Em 2017, voltou – afinal, time que está ganhando não se mexe.
Este ano, no entanto, Rafael era o favorito na prova que aconteceu na intendência de Artigas, pertinho da fronteira com o Rio Grande do Sul. Não foi mais fácil por isso, mas deu a ele mais confiança para liderar 4 das 5 etapas da competição. E venceu logo de cara.
– A primeira prova é um tiro curto contra o relógio. Cada competidor sai e percorre uma certa distância. Quem for o mais rápido, leva.
Rafael é especialista nessa modalidade – o que não evitou que ele perdesse justamente nela, na 4 e antepenúltima etapa da competição.
– Serviu para eu focar mais. Estava com excesso de confiança. No final, venci e deu tudo certo – resume
– Não me considero um cara de talento, mas tenho muita força de vontade.
Viver do esporte: uma realidade dura
Rafael – mesmo sendo um atleta de elite – sofre o mesmo que muitos que sonham em viver de esporte no Brasil: a falta de patrocínios que lhe permitam só praticar, treinar e promover o que faz de melhor.
– Quando saí da equipe, consegui aqui alguns apoiadores. É isso que me permite praticar.
A Casca Sports fornece para ele todo o equipamento e roupas próprias para o ciclismo. A Garça Bike Studio prepara a bicicleta sempre que há uma competição a vista. A CA Design cuida da coroa – uma das engrenagens que "troca" as marchas da bicicleta. A Estacionando e o Supermercado Spessatto lhe garantem um patrocínio em dinheiro para as despesas que tem.
Planos para 2017: conquistar o Brasil
Depois de voltar do Uruguai, Rafael se dedica aos treinos e para o Campeonato Gaúcho de Ciclismo, que ele lidera com um segundo lugar na primeira etapa, em Venâncio Aires. A próxima prova é amanhã, em Uruguaiana.
– Meu desafio será o Brasileiro, onde quero fazer um bom papel mesmo que ainda não tenha uma equipe – adianta o ciclista.
O Campeonato Brasileiro é feito em um etapa única. Em 2017, será na cidade de São Carlos, São Paulo.
– É uma prova de 180 quilômetros.
Rafael quer chegar entre os 10 melhores competidores do país – o que o deixaria na elite nacional do esporte.