Não desista, por favor, não desista!

Claude Monet, Impressões: Nascer do Sol | Reprodução

Gosto de pensar que arte e psicanálise compartilham de um limite muito tênue. Fala-se da psicanálise como a arte de escutar o Inconsciente e suas manifestações, ali aonde as palavras são ao mesmo tempo insuficientes e o caminho para a verdade pessoal de cada sujeito.

Certa vez li um texto de Roney Moraes que dizia: “… o analista é, sobretudo, um leitor. Um atento leitor da poesia do Inconsciente. Ele escuta, na clínica, a associação livre, atos falhos, chistes ou os sonhos, aparentemente desconexos, e, como se fossem emaranhados de palavras soltas num papel… organiza, pontua, lê e faz o analisando interpretar…”.

Não importa de que forma de arte estamos falando, basta sabermos que a mais pura linguagem do Inconsciente não prescinde de métrica ou rima, mas as vezes se disfarça justamente em sua falsa organização. Para Freud, as obras de arte são como as produções psíquicas: torna consciente os conteúdos profundamente inconscientes, sempre simbólicas e dotadas de alguma distorção. Sem sentido mais profundo acaba por escapar do próprio artista. Desta forma, estabelece uma espécie de acordo entre consciente e inconsciente e essa reconciliação acaba por provocar encantamento e estranheza. Sua linguagem possui significados explícitos e implícitos a serem desvelados.

Enquanto sujeitos do Inconsciente somos controlados pela linguagem e não controlamos seus caminhos. De igual forma, o artista reprime uma série de conteúdos e sentimentos que somente afloram por omissão ou por descuido. Bethsabé Huamán, em um de seus artigos sobre arte e psicanálise, escreve justamente sobre a história anterior que precede cada obra. Em geral uma história desconhecida pelo artista e que se expressa por intermédio da metáfora artística.

Não é atoa que cada um de nós se interessa ou sente confortável na presença de algumas expressões artísticas e não de outras. Cada poema, pintura ou música que nos toca, o faz justamente por acessar lugares de nós mesmos que muitas vezes, na maioria das vezes desconhecemos. A arte é então o ponto de equilíbrio entre as forças mais obscuras e desconhecidas que nos habitam e sua possibilidade de conhecimento.

Esta semana me reencontrei com uma poesia que há muito já não tinha contato, entretanto lê-la foi como um afago na alma, como se uma força maior estivesse a me falar. “No te rindas”, é uma poesia atribuída ao escritor uruguaio Mário Benedetti, mas algumas fontes defendem que se trata de um equívoco. A poesia original está escrita em espanhol, mas publicarei aqui sua tradução para que mais pessoas possam compreende-la. Espero que desfrutem de sua força tão própria para os dias atuais.
 
Não desista
Não desista, ainda está em tempo
Para conseguir e começar de novo,
Aceite suas sombras, 
Enterre seus medos
Solte o lastro,
Retomar o voo.
Não desista que a vida é essa,
Continue a jornada,
Siga seus sonhos,
Desbloquear tempo,
Acabar com os escombros,
E descobrir o céu.
Não desista, por favor, não desista
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo morda,
Ainda que o sol se esconda,
E se cale o vento,
Ainda há fogo em sua alma
Ainda há vida em seus sonhos.
Porque a vida é sua e seu também é o desejo
Porque você ama e porque eu te amo
Porque há vinho e amor, é verdade.
Porque não há feridas que o tempo não possa curar.
Abra as portas,
Retire os parafusos,
Abandone as paredes que o protegeram,
Viva a vida e aceite o desafio,
Recupere o riso,
Ensaie uma música,
Abaixe a guarda e estenda as mãos
Abra as asas
E tente novamente,
Celebre a vida e volte ao céu.
Não desista, por favor, não desista
Ainda que o frio queime,
Ainda que o medo morda,
Ainda quw o sol se ponha e o vento se cale,
Ainda há fogo em sua alma,
Ainda há vida em seus sonhos
Porque todo dia é um novo começo,
Porque esta é a hora e a melhor hora.
Porque você não está sozinho, porque eu te amo.

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