No mundo do trabalho, terno é rei

por Leandro Melo

Nada se faz mais necessário naquele ambiente do que ele. Impávido, emoldurável poderia se dizer. A expressão da mais pura firmeza de propósito, até para o mais vacilante dos homens. Por décadas se faz presente nos escritórios, reuniões, até descontraídos happy hours e, mesmo sofrendo duros ataques, permanece impoluto, resistindo ao tempo. No mundo do trabalho, o terno – ou traje – é personagem principal.

O curioso a destacar nesse micro-conto corporativo é como a moda, os escritórios e a história da Vida Real marcaram uma roupa como símbolo de poder, seriedade, confiança e sucesso. Há empresas que o elegeram uniforme, empresários que não abrem mão nem nos finais de semana e crentes que o guardam para o primeiro encontro e o altar. Veja no Judiciário. Não se encontra um advogado aflito na porta do Foro sem um bem-passado na cor chumbo. É o dress code da Suprema Corte, tanto como era na corte de Luiz XIV, de onde se diz ter saído para as ruas, até hoje. Parece ser o primeiro viral da história! Um meme sobre o Poder que se perpetua. Escreveu-se que o Rei Sol o copiou dos soldados croatas que desfilaram a vitória, na Paris do século dezessete, incluindo o lenço que deu origem à gravata. Em seguida, as pessoas com pretensões à nobreza o copiaram também com adaptações para o seu dia a dia. Mais tarde, a burguesia carente de júbilo real o consolidou como veste do café da manhã ao pijama. E bastou um ajuste aqui outro ali para que todos o enxergassem como A Roupa. Imagine: Nem a “Revolução da Revoluções” cessou o jogo de copiar quem tem poder, e até hoje, paletó, calça com vinco e colete opcional emprestam sem reservas status de qualidade de imagem a quem puder vestí-los, venham da Renner ou da Hugo Boss.

Mas o que tem dentro de um traje? Bem, lá existe mais do que um homem ou mulher bem vestidos. Existe suor! Um suor que não aparece e apenas quem o está secretando tem consciência, secretamente! É a parte humana dessa história. Há também uma camisa nem sempre bem passada, devido à pressa de sair a tempo, que só precisa ter o colarinho bem alinhado. O objetivo é fazer figura, como se dizia na época de Pierre Cardin e Cocco Chanel. É verdadeiramente uma armadura para os tempos modernos, que nem a virtualidade da Internet desbanca. Possivelmente seja o nexo, o link com o estável e concreto do mundo que o torna absoluto. Com poucas dúvidas é isso que um terno representa de fato.

Um terno é como o conservadorismo político. Vista-o numa cavalgadura qualquer e lá estará o indivíduo com capacidade de conduzir a nação ao paraíso. Ou, mesmo quando um intrépido revolucionário de mangas arremangadas, precisa mostrar que pode ser polido,  lá vai ele cobrir os ombros e abotoar-se em tom sobre tom. Não se discute os símbolos, não se questiona os deuses. Será preciso uma nova revolução com indumentária que não copie nada para mudar a história. Mas daqui há séculos, povos desnudos muito mais evoluídos consultarão registros históricos e sentiram pelo menos vontade de experimentar as três peças que fascinaram a humanidade do passado. E tudo estará perdido novamente.

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