Fui criada em um lar com uma chefe de família, minha mãe. Uma mulher inteligente, de pulso firme, de muita palavra e arte. Minha mãe sempre decorou nossa casa impecavelmente, mas nada na decoração era tão predominante quanto a presença de livros.Na minha casa, os livros sempre estiveram por toda a parte. Na sala, nos quartos, na cozinha e se duvidar, até no banheiro.Minha mãe me criou com muita força, a força de uma mulher que não se rende. Com elegância, mas com voz. Com cor, mas sem preconceitos. Com altivez, mas sem rudeza.E com o seu exemplo me ensinou a lição mais preciosa: o conhecimento emancipa a mulher.Tive Barbies e bonecas, muitas. Mas também tive muitos jogos, e principalmente, muitos livros.Ficava horas sentada na minha escrivaninha, repleta de canetas e cores, palavras e objetos de papelaria.Em meu interior, uma chama foi crescendo aos poucos, uma paixão silenciosa e depois, nem tão discreta assim.Uma necessidade, um desejo de sempre querer mais. Uma menina absorta em suas histórias, preparada para dissertar sobre tudo e nada, uma mente imaginativa.Lá naquela escrivaninha sentada com sua boneca nos braços, uma semente próspera.Sim, uma futura mulher emancipada pelo conhecimento, pelo contato com esse tesouro que chamamos de literatura.Uma mulher que lê é uma mulher que não se curva, que não aceita tudo o que lhe é imposto e dito.Uma mulher que lê é uma mulher que vai atrás, saí correndo com suas próprias pernas, força no corpo e força na mente. Ela sabe que possui o que é preciso.Uma mulher que busca o conhecimento, dificilmente será dobrada.E se for, logo perceberá a armadilha, muito a tempo. Uma mulher que busca o conhecimento, pode não achar tanta graça, pode não querer mostrar os dentes.Uma mulher que encontra esse conhecimento, volta e meia se deleita, quer ficar sozinha, sente-se inebriada com tanto.A mulher se emancipa por si só, fica mais atenta, pode correr o risco de envelhecer um pouco a cada página, a cada nova informação. Entretanto, corre esse risco, se aventura, não tem medo dos padrões. Essa mulher, um dia foi uma menina e ainda é. Mas tem uma semente plantada em seu peito, por pais que a incentivaram, por figuras femininas muito felinas, por avós sábias, ancestrais imponentes.
Minha mãe sempre me disse que a beleza é subjetiva, singular, cada um é o que é.O corpo muda, envelhece, amadurece e esmaece.Ela sempre disse que essa vida é fugaz, que a matéria é só matéria e mais nada.Mas o conhecimento, esse sim é sólido, é intenso, e há como senti-lo a medida que se possui cada vez mais. Ele vem e arrebata nossos pensamentos, se entranha, ele é eterno.As histórias, as novidades, a expansão. Não se pode perder, é algo muito nosso. Aquilo que sabemos, aquilo que aprendemos, se esconde dentro de nosso coração e não sai.As mulheres que buscam a emancipação através do conhecimento, estão sempre mais perto de uma felicidade genuína. Não aquela que nos é vendida, alcançada através do consumo desenfreado.Essa felicidade é mais como um processo de descoberta, de autoconhecimento, que irá perdurar até o fim da vida. Essa é a realização que espera essa mulher que decide pelo conhecimento.Nesse lugar não existem homens e/ou outras mulheres para se subordinar, objetos caros para comprar, nem a disputa da sociedade.Nesse lugar, mulheres podem caminhar livres e correr atrás de seus interesses e sonhos, conhecendo a elas mesmas.Uma emancipação, um despertar, uma chance de eternidade: o conhecimento, a leitura, um amor para a vida toda.